‘Não é uma missão fácil encontrar os corpos’, diz delegado Alexandre Saraiva sobre caso de desaparecimento na Amazônia

De acordo com o delegado, são vários os relatos de servidores públicos que sofrem ameaças (Divulgação)

14 de junho de 2022

19:06

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – O delegado Alexandre Saraiva, ex-superintendente da Polícia Federal do Amazonas (PF-AM), disse nesta terça-feira, 14, que encontrar os corpos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, desaparecidos na região do Vale do Javari, não é uma missão fácil. Para o ex-gestor, as dificuldades que as equipes de buscas enfrentam, principalmente, por conta do clima tropical quente e úmido da Amazônia, são fatores que fazem os trabalhos demorarem na região.

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“O último caso de homicídio que trabalhei, na Amazônia, foi em 2021, quando dois indígenas foram mortos e nós encontramos os corpos eviscerados e amarrados com pedras para irem para o fundo do rio, que [por conta de] predadores, são degradados muito rapidamente. Neste caso, conseguimos resgatar os corpos, mas até sairmos de lá, as investigações continuaram. Então, não é uma missão simples encontrar esses corpos, porque a própria região, o calor, a umidade, tudo favorece a degradação acelerada do tecido humano”, lembrou o delegado em entrevista a GloboNews.

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O ex-superintendente declarou também que a investigação sobre o caso de Bruno e Dom é clássica de homicídio e que se torna cada vez mais complexa com a demora para encontrar o indigenista e o jornalista. “Não sei os detalhes do que estão fazendo para a investigação de homicídio, mas o contexto que levou a ocorrência dessa tragédia continua lá. E o que acontece na região, como o Passos falou, é a convergência criminosa que, segundo a criminologia, é o que, naturalmente, ocorre: a convergência de vários ramos criminosos que se encontram em determinada área geográfica”, defendeu Saraiva.

Bruno e Dom desapareceram no dia 5 de junho (Reprodução)

Ausência do Estado

De acordo com o delegado, são vários os relatos de servidores públicos que sofrem ameaças. Segundo Alexandre Saraiva, existe um “grande risco para esses servidores e que não pode ser solucionado sobre o ponto de vista da segurança pessoal”. “O que pode resolver o problema não é uma segurança específica para determinado servidor, porque eu acho que é inviável. O que precisa é se mostrar forte na região”, afirmou o ex-superintendente.

O caso

Bruno Pereira e Dom Phillips estão desaparecidos desde o dia 5 de junho deste ano, no Vale do Javari, interior do Amazonas, após eles receberem ameaças em campo, segundo a União dos Povos Indígenas Vale do Javari (Univaja).

Segundo a União dos Povos Indígenas Vale do Javari (Univaja), Bruno e Dom viajavam em uma embarcação nova, com motor de 40 HP e 70 litros de gasolina, rumo a uma localidade próxima à Base de Vigilância da Funai, no Rio Ituí, Lago Jaburu, para que o jornalista britânico realizasse entrevistas com indígenas para um livro com temática ambiental.

Até esta terça-feira, 14, um homem identificado como Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado”, está preso suspeito de envolvimento no desaparecimento.

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