Nível do rio Negro ultrapassa cota de inundação e preocupa comerciantes e moradores em Manaus

Medição do nível do Rio Negro no Porto de Manaus (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

12 de abril de 2021

15:04

Marcela Leiros

MANAUS – O nível do rio Negro em Manaus chegou a 27,92 metros nesta segunda-feira, 12, e ultrapassou a cota de inundação prevista para 27,50 metros, segundo informações do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). A possibilidade é que o nível do rio possa exceder também a cota de inundação severa de 29 metros, e ainda o nível da cheia histórica de 2012, de 29,78 m. Essa expectativa já preocupa comerciantes e moradores que moram na capital amazonense.

A possibilidade de uma grande cheia neste ano preocupa comerciantes como Sidenir Barbosa, proprietário da loja Casa da Pesca situada na rua dos Barés, no Centro de Manaus. Ele, que está no endereço considerado ponto de referência para a medição do nível do Rio Negro pelo CPRM, conta que já está se preparando para a cheia deste ano.

“Em 2012, a gente teve que levantar tudo, a prefeitura [de Manaus] fez uns tablados. O movimento diminuiu um pouco porque alagou muito e o pessoal não vinha muito trabalhar nem comprar. Para este ano a gente já está preparado, se acontecer a gente compra uns paletes e ajeita, compra madeira, quando a água vem a gente vai levantando”, contou o comerciante que trabalha no local há 30 anos e também teve que lidar com a cheia histórica de 2012.

Sidenir Barbosa mostra o marco onde a água atingiu na cheia histórica de 2012 (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Preocupação

O grande volume de chuvas foi percebido por Francisca Estevam, de 77 anos, que mora em uma residência na beira do rio, Bacia do Educandos, há 44 anos. À CENARIUM, a aposentada contou que todos os dias fica preocupada com as chuvas e com o volume do rio que está subindo.

“Ano passado não alagou aqui [na residência] em cima não, faltou meio metro para alagar, mas este ano estou preocupada, porque ainda tem o resto de abril e maio. Em 2012, eu tive que me mudar, coloquei minhas coisas embaixo da casa do vizinho e fui para casa da minha filha. Passei uns dois ou três meses fora daqui, mas este ano só Deus é que sabe, já estamos preocupados. Todo ano ficamos preocupados com a cheia dos rios. Quando a enchente vem muito alta cada um tem que dar seu jeito”, afirmou a aposentada.

Francisca Estevam observa com preocupação o aumento no nível do rio Negro (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Análise

A cota de inundação é medida pelo CPRM a partir do primeiro dano ao município. Em altos níveis, a cota é considerada severa, de acordo com o estrago causado na região ou município. Segundo o CPRM, o rio pode atingir a “inundação severa” entre os meses de junho e julho na que pode ser a maior cheia em 119 anos.

Cheia na rua dos Barés nesta segunda-feira, 12, e em 2012 (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

De acordo com a pesquisadora do CPRM, Luna Gripp, até o momento o que se tem é uma previsão com intervalo de confiança, não sendo possível afirmar com exatidão se o Rio Negro atingirá a cota de inundação severa. “Toda previsão inclui um intervalo de confiança. Não prevemos o valor exato que o rio vai atingir, mas sim uma ‘faixa de possibilidades’. O valor médio dessa faixa prevista é de 29,45 m e o valor máximo é 30,35 m. Em resumo, a maior chance é de ocorrer um valor próximo a 29,45 m e existe a possibilidade de alcançar 30,35 m”, afirmou Luna Gripp.

De acordo com o último boletim de chuvas do CPRM, no período analisado de 9 de março a 7 de abril, considerado estação das chuvas em grande parte da região, foram observados “grandes volumes de precipitação sobre algumas bacias da área de monitoramento”. No mês de março foi registrado também grande volume de chuvas, o que afeta diretamente o nível dos rios na região.

Níveis históricos da cheia dos rios em Manaus (Guilherme Oliveira/Revista Cenarium)

Municípios em emergência

De acordo com o último levantamento realizado pela Defesa Civil do Amazonas, divulgado no sábado, 10, 12 municípios estão em emergência e 103.652 pessoas são afetadas pela cheia dos rios na calhas do Juruá e do Purus. Os municípios em situação de emergência são Guajará, Envira, Eirunepé, Itamarati, Ipixuna, Carauari, Juruá, Pauini, Boca do Acre, Lábrea, Canutama e Tapauá.

Ações no Amazonas

O Governo do Amazonas completou, na sexta-feira, 9, a entrega de ajuda humanitária em 12 municípios em situação de emergência, pela cheia nas calhas dos rios Purus e Juruá. As ações fazem parte da Operação Enchente, que realiza fornecimento de água potável, operações de crédito e anistia de dívidas, entre outros apoios para população afetada.

Mais de 15 mil cestas básicas já foram entregues em 12 municípios (Reprodução/Secom)

Somente em cestas básicas, já foram entregues mais de 15 mil para famílias de 12 municípios. O Estado concedeu anistia de dívidas em 186 operações de crédito com a Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam), no montante de R$ 1,4 milhão, auxiliando produtores e empreendedores nos setores primário, secundário e terciário.

Edição: Carolina Givoni