19 de janeiro de 2021
13:01
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
MANAUS – A Universidade do Estado do Amazonas (UEA) está oferecendo atendimento psicológico, online, aos profissionais de imprensa que atuam na cobertura da pandemia da Covid-19. No mês do Janeiro Branco, a medida é gratuita e visa amenizar os impactos mentais em meio à crise da saúde, decorrente do novo coronavírus, instalada no Estado.
O Amazonas, assim como todos os demais estados do País, sofre com a falta de leitos clínicos e de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), além da escassez de cilindros de oxigênio para pacientes com Covid-19. A tragédia do caos pandêmico, a dor e o sofrimento das famílias, registrados por inúmeros profissionais da comunicação, levaram a instituição de ensino superior a promover o acolhimento psicológico online.
O atendimento é realizado a partir de um projeto de extensão da UEA chamado “Nós, da Linha de Frente”, cuja mentora inicial foi a professora Munique Therense. De acordo com o professor Márcio Santos, coordenador do projeto, a ação começou ainda no ano passado, durante o primeiro pico da pandemia em Manaus e a ideia era somente uma troca de experiência entre profissionais e neste segundo momento, a iniciativa tomou proporções maiores, contando com profissionais de diversas partes do País.
“O objetivo do projeto é exatamente amenizar (os impactos da pandemia) e trazer um olhar, uma escuta que o profissional de imprensa possa reelaborar o significado de tudo isso que está acontecendo; de pensar ou de dar, simbolicamente, um sentido ou um significado para isso”, disse à REVISTA CENARIUM o professor Márcio Santos.
À reportagem, o professor falou sobre os significados da pandemia. Para ele, a Covid-19 é o lugar das incertezas, da fragilidade humana, da finitude, dos conflitos políticos. “A pandemia suscitou muitas outras questões e o profissional de imprensa está no meio disso, por que ele está veiculando a informação e a ideia é levar esse atendimento aos profissionais e dar suporte”, continuou.
“O acolhimento levou em consideração, exatamente, os impactos da pandemia sobre o psiquismo desses profissionais que estão lá, também na linha de frente, porque visam levar ou trazer informação e veicular para a população. Só que nessa ação desses profissionais, você acaba sendo impactado por experiências de ver as pessoas morrendo, a população, os acompanhantes, a experiência da falta do oxigênio”, salientou o educador.
Como conseguir atendimento?
Para conseguir atendimento, é disponibilizado um link na plataforma virtual Wix Site (https://epsicouea.wixsite.com/saudemental) para o interessado acessar e realizar seu cadastro. O profissional de imprensa basta preencher um formulário que a coordenação do projeto faz a triagem e direciona para um profissional da psicologia.
Sessões
De acordo com o professor Márcio Santos, os atendimentos duram, em média, de 20 a 30 minutos. Ele lembra, também, que a medida não é uma terapia, mas um acolhimento, podendo ter até três sessões, nesse momento de sofrimento e dor decorrente da crise da Covid-19.
“A gente entende que o profissional de imprensa precisa saber lidar [com a Covid-19]. Às vezes o profissional de imprensa é o profissional que está perdendo parentes, que também está enlutado, é o profissional que às vezes adoece e é o profissional que precisa estar bem para poder informar. Então, ele precisa lidar com tudo isso acontecendo no mesmo momento”, declarou.
Janeiro Branco
Neste mês, é comemorado o Janeiro Branco, uma campanha que busca chamar atenção ao tema da saúde mental na vida das pessoas. Com a pandemia da Covid-19 e o advento da tecnologia, especialistas alertam sobre a interação virtual excessiva, um risco para a saúde mental.
“Um estudo desenvolvido pela Royal Society for Public Health, uma instituição inglesa voltada para a saúde pública, identificou que as redes sociais geram tanto efeitos positivos quanto negativos, porém, segundo o mesmo estudo, o Instagram, uma das redes sociais mais usadas atualmente, é apontado como a pior plataforma para a saúde mental dos usuários”, afirma a psicanalista e terapeuta amazonense Samiza Soares.
Segundo ela, a forma de interação na plataforma tem transformado o ambiente virtual em uma espécie de competição. “As pessoas dedicam horas às atualizações nas redes e estão sempre em busca de se autoafirmarem por meio dos perfis virtuais. Além disso, há o uso excessivo de aplicativos de beleza, com a busca desenfreada pela perfeição, essa busca sempre acarreta muito sofrimento para quem decide fazê-la, pois a vida real é imperfeita”, explica.