No AP, exploração madeireira alcançou quase 100 campos de futebol

Destruição ocorreu entre o período de agosto de 2019 a julho de 2020 (Ricardo Oliveira/Cenarium)

27 de setembro de 2021

20:09

Bruno Pacheco – Da Cenarium

MANAUS – Amapá é um dos nove Estados que compõe a região de maior biodiversidade do mundo, a Amazônia Legal, que teve uma área equivalente a cerca de 100 campos de futebol desmatada pela exploração ilegal de madeira. Segundo um estudo inédito levantado por imagens de satélite e publicado nesta segunda-feira, 27, essa destruição ocorreu entre o período de agosto de 2019 a julho de 2020.

O levantamento foi realizado a partir de informações cedidas pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amapá (Sema) à Rede Simex, ferramenta de monitoramento da Amazônia que é integrada pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e Instituto Centro de Vida (ICV).

De acordo com o estudo, foram 730 hectares de área com exploração de madeira no período de um ano somente no Amapá, sendo que 96 hectares (13%) ocorreram de forma ilegal. O restante – ou seja, a maior parte desse desmatamento -, que corresponde a 634 hectares (87%), foi autorizada.

Mapeamento da exploração madeireira no Amapá – Agosto 2019 a Julho 2020 (Divulgação/ Rede Simex)

A exploração ilegal ocorreu em apenas dois municípios na região Centro-Oeste do Amapá, dos 16 existentes no Estado: Pedra Branca do Amapari, onde foram desmatados 50 hectares (52%), e Porto Grande, onde foram destruídos 46 hectares (48%). Conforme o sistema de monitoramento, 65 dos hectares com exploração madeireira não permitida estão em imóveis rurais cadastrados (68%) e 30 em assentamentos (32%).

Exploração pode ser maior

Os pesquisadores destacam, ainda, que entre agosto de 2019 e julho de 2020 foi observado um percentual elevado de nuvens nas imagens de satélite ópticas que prejudicaram o monitoramento da maior parte do Estado, o pode significar que a exploração madeireira na região seja ainda maior.

Segundo Dalton Cardoso, pesquisador do Imazon, a região em que se localiza o Estado possui aspectos climatológicos bem peculiares, contribuindo para a existência de percentuais elevados de nuvens em boa parte do ano. Esse fator é crucial para os especialistas levantarem dados para pesquisas e tornarem o monitoramento por imagens de satélite mais difícil.

“Embora tenhamos identificado e mapeado áreas de exploração, não descartamos a existência de outras ‘escondidas’ pelas nuvens”, reforçou Dalton Cardoso.

Monitoramento

Para o ambientalista mestre em Ecologia, Carlos Durigan, da Wildlife Conservation Society Brasil (WCS Brasil), estudos como os da Rede Simex são fundamentais para o combate ao desmatamento e as ações de monitoramento de órgãos ambientais na Amazônia Legal podem contribuir de forma significativa para se desenvolver uma gestão de um Estado.

“É por meio do monitoramento de impactos e busca de entendimento sobre suas causas que se pode avaliar as melhores medidas para se tomar e fazer frente á degradação. Infelizmente, atualmente a gestão pública tem minimizado e até negado constatações como estas e isso dificulta que ações eficazes de combate a ilícitos ambientais sejam tomadas”, declarou o ambientalista.

Durigan desta também que as frentes de desmatamento têm se alastrado por toda a região e o que acontece no Amapá é reflexo da ausência de uma política firme de combate a crimes ambientais. “Isso que acontece no Amapá é reflexo da ausência de uma política firme de combate a crimes ambientais, aliada a uma agenda positiva de investimentos em alternativas sustentáveis de desenvolvimento regional. Importante que o sinal de alerta seja dado, inclusive para regiões sem histórico importante de degradação, para que medidas preventivas sejam adotadas”, concluiu.

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