No Dia Internacional da Enfermagem, profissionais falam sobre dificuldade, força e redescoberta da profissão após a pandemia

A data escolhida em homenagem ao dia de nascimento de Florence Nightingale (1820-1910), considerada a "mãe" da Enfermagem moderna (Reprodução/Secom)

12 de maio de 2022

21:05

Diovana Rodrigues – Da Revista Cenarium

MANAUS – Nesta quinta-feira, 12, é celebrado o “Dia Internacional da Enfermagem”, com a pandemia da Covid-19, a categoria mostrou a devida importância para a condução da saúde a nível regional, nacional e internacional. Na data escolhida em homenagem ao dia de nascimento de Florence Nightingale (1820-1910), considerada a “mãe” da Enfermagem moderna, profissionais da área falam à CENARIUM sobre a força, redescoberta e dificuldades da profissão.

A enfermeira Adriana Macedo Cabral, também intensivista e estomaterapeuta, fala que a classe é tão importante quanto os demais profissionais da saúde. Sobre os efeitos da pandemia afirma que, apesar das dores e todo caos, houve a maior valorização do exercício da profissão para a população em geral, mas Adriana, que atua há 27 anos na profissão da saúde, também destaca os pontos que impactaram muitas vidas daqueles que se dedicam para cuidar do próximo.

De impacto negativo foi o emocional, desencadeando nos profissionais, transtornos de ordem psíquica, devido ao cenário que nos deparamos, com inúmeras perdas de pacientes, a falta de insumos, a falta inclusive de espaço para acomodação dos paciente, as perdas de colegas de profissão, não só enfermeiros, mas colegas da saúde, como médicos, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem, perdas também dos colaboradores, como maqueiros, colaboradores dos serviços em geral e também perda de familiares, quantos de nós perdemos na pandemia“, relembra a responsável pela Gestão de Pessoas da Sustentabilidade, Empreendedorismo e Gestão em Saúde do Amazonas, (SEGEAM) em entrevista à CENARIUM.

Adriana Macedo Cabral fala sobre a importância da enfermagem.
Distribuição: Acervo Pessoal.

“Força e superação”

Há 5 anos como profissional de enfermagem, Layna Machado, 32, relata sobre o medo do desconhecido, a exaustão, superação e união da categoria com o desejo de ver os pacientes superarem cada batalha.

“Vivíamos uma jornada longa e exaustiva no combate a uma doença que não sabíamos como agir logo no começo. Muitos colegas se contaminaram e adoeceram de maneira grave e chegaram a perder a vida por conta do vírus, ao mesmo tempo em que fomos tomados por um sentimento de união e solidariedade. Sempre cuidamos de todos os paciente com maior zelo, mas durante a pandemia isso se tornou mais frequente, pois os pacientes não podiam ter contato com os seus familiares e essa era a parte mais triste da profissão. Então fazíamos de tudo para, apesar da distância, aproximar de alguma forma o paciente do seu familiar. Sem dúvida, foram jornadas tristes e exaustivas que impactaram sobremaneira a nossa profissão”, conta.

Layna Machado diz que o período da pandemia do Covid-19 foi “extremamente cansativo”.
(Reprodução/ Acervo Pessoal)

Mais valorização

A enfermagem é a arte do cuidar, nosso papel é promover cuidado, seja em pessoas saudáveis ou doentes é preciso cuidado, por isso eu entendo que a Enfermagem é importante em todas as áreas envolvendo a promoção, a proteção e a recuperação da saúde. A enfermagem ensina, trata, aconselha, intervém, organiza, administra, pesquisa, transforma, cria, faz saúde em todas as suas formas”, diz a enfermeira Aimée Queiroz de 28 anos.

A enfermeira atenta para a falta de valorização da classe e considera que a categoria necessita de mais reconhecimento. “A nossa profissão é de extrema importância, mas muito desvalorizada. Cuidamos do paciente ao longo de toda a sua internação hospitalar e, quando o paciente sente dor, é o profissional de enfermagem que está ao seu lado, fazendo de tudo para melhorar o seu bem-estar. O profissional de enfermagem trabalha bastante, mas pouco é reconhecido. E essa é uma luta de anos, porém já estamos começando a melhorar essa situação com a aprovação da PL 2564 para a garantia de melhores remunerações para a classe”, assevera.

No último dia 4 de maio, um importante marco para a classe da enfermagem foi aprovado, com a criação do piso salarial no Projeto de Lei n° 2564, de 2020. Todavia a garantia da aplicação depende da aprovação da proposta de emenda à Constituição Federal e indicação de fontes de financiamento. O salário seria de R$ 4,7 mil para enfermeiros, R$ 3,3 mil para técnicos de enfermagem e R$ 2,3 mil para auxiliares e parteiras. Leia mais sobre o assunto aqui.

Na leitura de Aimée Queiroz não houve grandes melhorias na carga horária de trabalho, na remuneração, no dimensionamento de pessoal, o que traria benefícios tanto pros profissionais quanto para os clientes.

Além disso os profissionais em geral estão tendo mais quadros de depressão, ansiedade, de síndrome de bournot, entre outras doenças, incluindo físicas, pois para obter um salário digno muitas vezes é preciso ter 2 ou 3 empregos, o que com o aumento da tensão da carga de trabalha durante a pandemia, corroborou com o adoecimento dos profissionais”, desabafa.

Aimée Queiroz diz que “a pandemia foi desafiadora, tivemos que lidar com a doença desconhecida”.
(Reprodução/ Acervo Pessoal)

Assistência

A gerente de enfermagem Kamila Lima Prado, explica que não teria como atuar dentro de uma unidade hospitalar sem a enfermagem. De acordo com Kamilia, o enfermeiro trata de toda parte burocrática e também assistencial do paciente.

Sem a equipe de enfermagem, infelizmente, teria um impacto muito negativo, dentre todos os fluxos de departamento de uma unidade de saúde. Ao meu ver, a enfermagem é a base da assistência. É o início, o meio e o fim”.

Ela também comenta sobre a experiência pandêmica, momento que teve que ser forte e acreditar até o fim na medicina e na capacidade da classe de lidar com a situação da melhor maneira. “Ao mesmo tempo que tínhamos que ser fortes, pelos nossos clientes, estar sempre atentos, oferecer o melhor cuidado e perceber nos mínimos detalhes o que poderia ser um divisor de águas para melhora ou piora do quadro. Muitas vezes também éramos uma mão tranquilizadora, uma companhia, uma alegria, pois muitos clientes ficaram sozinhos durante a internação, então era necessário vencer o cansaço e ao iniciar o plantão se vestir de boas energias para proporcionar o melhor tanto pra equipe quanto por cliente”, afirma.

gerente de enfermagem Kamila Lima Prado (Reprodução/ Arquivo pessoal)

Sobre a data

Florence Nightingale (1820-1910), era considerada a “mãe” da Enfermagem moderna, devido ao pioneirismo durante o tratamento de feridos em batalhas, principalmente na Guerra da Crimeia. Além de ser responsável pela fundação da Escola de Enfermagem no Hospital St. Thomas, em Londres, em 1860, fato marcante para a classe.

Além do dia 12, no Brasil, tem-se também a Semana da Enfermagem, entre os dias 12 e 20 de maio, em alusão Nightingale e Ana Néri, outra ilustre figura da profissão, a enfermeira brasileira foi a primeira a se alistar como voluntária em combates, como a Guerra do Paraguai (1864-1870), em hospitais militares de Assunção, Corrientes e Humaitá.

Com origem milenar, a profissão é responsável pelo bem-estar, cuidado, proteção, supervisão de pessoas convalescentes, idosos e deficientes, com o tratamento do paciente, no funcionamento das unidades de saúde e como parte integrante da equipe multidisciplinar.