Novo coronavírus já infectou 19 mil indígenas da Amazônia Legal

19 de agosto de 2020

14:08

Carolina Givoni – Da Revista Cenarium

MANAUS – Um levantamento da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) aponta que 19 mil indígenas da região da Amazônia Legal já foram infectados pela Covid-19, de acordo com o último boletim epidemiológico divulgado nesta quarta-feira, 19.

Os noves Estados que compõem a Amazônia Legal concentram 73% dos casos confirmados entre etnia brasileiras, com 125 povos atingidos e 579 óbitos. O Amazonas lidera a triste estatística com 188 mortes, seguida do Mato Grosso com 103 óbitos, o Pará figura como terceiro estado com mais mortes, registrando 86 falecimentos. 

Roraima acumula 70 mortes ocasionadas pelo novo Coronavírus, já o Maranhão possuí 62 óbitos, seguido do Acre com 24. Os demais estado como Amapá e Rondônia somam 17 perdas de nativos, com Tocantins registrando 12 mortes, fechando a lista mórbida.

Casos suspeitos

No total, ainda existem 772 casos suspeitos da doença na região amazônica, pendentes para confirmação dos exames. Segundo a Apib, a falta de atendimento da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) aos indígenas que vivem em contexto urbano e fora de territórios que não são homologados.

A organização alerta que o hospitais querem registrar indígenas que vivem em contexto urbano como pardos, postura do governo tem aumentado
os crimes de racismo contra comunidades indígenas em pequenas cidades.

A Apib também declara que muitos indígenas têm se negado a fazer teste ou a realizar tratamento devido ao racismo, que também tem aumentado os
conflitos internos nas comunidades.

Letalidade

A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) é uma das organizações que integra a Abip, e recentemente em parceria com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) divulgou um estudo que aponta a alta taxa de mortalidade pelo coronavírus entre indígenas.

O estudo afirma que (o número de óbitos por 100 mil habitantes) é 150% mais alta do que a média brasileira, e 19% mais alta do que a registrada somente na região Norte – a mais elevada entre as cinco regiões do país.

A taxa de letalidade, ou seja, de quantas pessoas foram infectadas pela doença morreram: entre os indígenas, o índice é de 6,8%, enquanto a média para o Brasil é de 5% e, para a região Norte, de 4,5%.

A equipe da Coiab trabalha diariamente com dados de casos de infectados e óbitos levantados e sistematizados, com o objetivo de apresentar informações mais próximos da realidade do que os dados oficiais, disponibilizados pelo Ministério da Saúde (MS).

O estudo levanta algumas possíveis explicações para a taxa alta de infecção, mortalidade e letalidade entre os povos indígenas. Além disso, a análise aborda alguns temas como: os sistemas deficientes de cuidados específicos a essa população; o possível baixo grau de imunidade indígena a patógenos exógenos ao seu ambiente; e a problemática da invasão das terras indígenas por atores que podem levar o vírus para dentro dos territórios e comunidades.

“Os dados da Coiab vêm para fortalecer os dados do governo federal. Estamos levantando as informações oficiais das organizações indígenas sobre a realidade que estamos vivendo hoje. É um controle social, que faz parte do trabalho de atenção básica de política de saúde”, explica Mário Nicácio, vice-coordenador do Coiab.

Soluções

Um plano emergencial indígena de enfrentamento da Covid-19 no Brasil elaborado pela Apib e associados, conclama todos a apoiarem medidas que possam salvar vidas e exercitarem a solidariedade. 

O “plano orientador” orienta diretrizes para as ações das organizações indígenas vinculadas a APIB e instituições não indígenas parceiras. Eles propõe a elaboração de planejamentos regionais e locais de ações a serem apresentados pelas organizações executoras das propostas.