‘O amanhã da Amazônia é agora’; Comissão Pastoral da Terra e Coletivo Proteja fazem vigília no Dia das Florestas

Evento contou com a presença de coletivos no Largo São Sebastião, em Manaus (Ana Beauvoir/Cenarium)

21 de março de 2022

22:03

Malu Dacio – Da Revista Cenarium

MANAUS – Com apelos por preservação ambiental, fim da agenda política governamental anti-indígena e maior representatividade em ano eleitoral, no Dia das Florestas a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Coletivo Proteja realizaram uma vigília na noite desta segunda-feira, 21, no Largo São Sebastião, em Manaus.

Organizações não governamentais, coletivos e influencers estiveram no ato. Além da CPT e do Proteja, Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), Rede Um Grito Pela Vida, Minha Manaus e movimentos sociais locais também marcaram presenças.

Na programação, os participantes gritaram palavras de ordem, fizeram orações e criticaram a ausência de medidas protetivas ao meio ambiente por parte do governo federal e do presidente Jair Bolsonaro. Uma série de projeções foram feitas, durante o ato, em um ponto estratégico, no Centro de Manaus, com frases que destacam a importância da preservação da Amazônia.

No ato, os participantes gritaram palavras de ordem e fizeram orações (Juliana Pesqueira / Coletivo Proteja)

Juliana Pesqueira, do Coletivo Proteja e organizadora do evento, destacou que falar sobre o momento que vivemos é essencial para a consciência de todos. “Temos várias questões de violência ambiental. Pessoas, no interior, e, inclusive, a gente também contaminadas; e o quanto que essas agendas do atual governo vêm proporcionando para a flexibilização ambiental e a abertura de terras indígenas e de áreas protegidas para o garimpo. Isso acaba afetando as nossas vidas”, afirmou Juliana.

Juliana defendeu que o ato acontecer no Largo São Sebastião, no Centro de Manaus, é importante para maior democratização e acesso da informação para um maior número de pessoas.

“Ainda mais em um horário com pessoas indo para a faculdade, voltando da escola ou do trabalho. Esperamos que eles parem para escutar sobre isso. É importante que isso tenha um ponto de reflexão para além de uma data comemorativa em alusão à floresta. Para que a floresta fique em pé”, lembrou Juliana.

Maria Agostinha de Souza, da Comissão Pastoral da Terra e também organizadora do evento, afirmou que a ação vem para evidenciar a preocupação das ações que o governo tem com os povos das florestas e os possíveis resultados.

Ato aconteceu no Largo São Sebastião (Juliana Pesqueira / Coletivo Proteja)

“Nesse governo que temos, acabamos passando por uma preocupação, pelos resultados que podem acontecer com as nossas florestas. Pode acabar tudo isso. Nossos povos da terra e das águas podem não ter mais nada, daqui a pouco, e isso vai interferir em tudo na nossa sociedade”, disse a organizadora.

Maria Agostinha, da Comissão Pastoral da Terra (Juliana Pesqueira / Coletivo Proteja)

Participações

A ativista indígena Samela Sateré defendeu que não há como pensar em Amazônia, florestas e mudanças climáticas sem que as pessoas estejam envolvidas. “Estamos no bioma que vivemos. O Dia das Florestas é importante porque estamos no maior e mais diverso bioma do mundo. É preciso que as pessoas se conscientizem de que sem as florestas nós não vivemos”, disse.

Ativista indígena Samela Sateré criticou ações do governo federal (Ana Beauvoir/Cenarium)

Samela afirmou que os povos indígenas também precisam ser respeitados e ouvidos nessas discussões. “Somos poucos aqui, mas estamos nos importando com o futuro das florestas. Temos várias organizações unidas com um objetivo em comum. Acreditamos que se a gente não lutar, não vão lutar por nós. O amanhã da Amazônia é agora”, completou a liderança indígena.

Alessandrine Silva, do movimento Manas na Política, participou do ato e defendeu maior representatividade política de pessoas e coletivos que defendem a Amazônia e os diretos dos povos originários.

“Hoje é o Dia das Florestas e a gente precisa dizer que o Dia das Florestas é um dia em que os povos e as florestas também estão em enfrentamento. É por essa pauta e essa questão que nós estamos aqui. A gente grita pelo enfrentamento, mas traz também a solução e a solução é a ocupação de lideranças dessas pautas para que a gente siga discutindo isso com seriedade, e não trocar a vida de pessoas por ouro”, criticou Alessandrine.

“Eu classifico como urgente as mobilizações de enfrentamento a esse pacote de horror que está passando no Congresso Nacional e que está já impactando o nosso Amazonas. A gente teve, nos últimos três meses, uma invasão acelerada de mineradores, de garimpeiros que estão contaminando os povos indígenas, que estão contaminando os povos do Rio Madeira, e a gente precisa falar sobre isso”, defendeu a ativista.

Influencers

Pensando no todo e no bem coletivo, os influencers amazonenses Marciele Albuquerque e Vito Israel, saíram das redes sociais – onde também defendem questões de preservação ambiental e Amazônia – e foram ao ato como forma de defender as pautas levantadas.

Vito, Samela Satere e Marciele Albuquerque, no ato (Ana Beauvoir/Cenarium)

Com 169 mil seguidores, no Instagram, Vito Israel ou apenas Vito é publicitário e em suas redes sociais sempre traz questões voltadas ao Amazonas. Por isso, ele afirmou que sua presença precisava sair da internet e tomar outras ações ainda mais efetivas, como o ato desta segunda-feira.

“O que me trouxe aqui foi essa vontade diária de lutar pela Amazônia. Temos pouco tempo e temos que lutar agora. Eu vi o chamado e vim. A cada dia eu tento introduzir mais a luta pela Amazônia no meu conteúdo. Estou há 8 anos trabalhando nesse universo”, disse Vito.

“Sempre temos que estar aqui. Infelizmente, tem poucas pessoas, mas aos poucos vamos conseguir trazer mais gente, mais pessoas do nosso Amazonas, porque elas precisam se conscientizar quanto a isso”, afirmou o publicitário.

A cunhã-poranga do Boi Caprichoso, Marciele Albuquerque, também esteve no ato e lamentou a pequena quantidade de pessoas presentes. “Eu, como amazônida, considero todas essas pautas contra a nossa Amazônia absurdas. As pessoas deveriam se importar mais com os povos indígenas e parar com essas explorações. O resultado, a gente já vê: essas mortes, inclusive, de crianças. Quando matam essas crianças, matam nosso futuro”, criticou.

Marciele Albuquerque, cunhã-poranga do Caprichoso, esteve no ato (Ana Beauvoir/Cenarium)

A influencer com mais de 130 mil seguidores disse que sempre se posicionou contra a pauta negacionista do atual governo e pretende usar ainda mais sua influência para divulgar ações voltadas às pautas ambientais, tendo em vista a necessidade ainda mais urgente.

“Todo mundo precisa da Amazônia. Tudo que eu puder fazer, usar minha voz e influência para defender essa causa, farei. Estar em causas como essa, divulgar nas minhas redes e continuar lutando contra esse governo que sou totalmente contra e sempre expus”, lembrou a cunhã.