‘Observatório’ aponta municípios que mais desmataram na área de influência da BR-319

BR-319 está na pauta ambiental e logística por ser a única ligação terrestre do Amazonas com o restante do país e sua liberação depende de acordos políticos (Reprodução/Orlando K.Jr-FAS)

01 de março de 2023

13:03

Mencius Melo – Da Agência Amazônia

MANAUS – O Observatório BR-319 (OBR-319), que monitora 13 municípios, entre Amazonas e Rondônia, situados na área de influência da rodovia, publicou estudo que aponta os seis municípios que mais desmataram no entorno da estrada. Canutama, Humaitá, Lábrea, Manicoré, Porto Velho e Tapauá são responsáveis por 94% do desmatamento. Somados, desmataram 159.659 hectares, uma área equivalente a quase 160 mil campos de futebol. As informações são da publicação “Retrospectiva 2022: desmatamento e focos de calor na área de influência da rodovia BR-319”.

A BR-319 é um anseio da comunidade empresarial do Amazonas, por ser uma via de escoamento dos produtos do Polo Industrial de Manaus (Reprodução/Orlando k. Jr-FAS)

De acordo com a pesquisadora Paula Guarido, que conhece a região e analisou os dados, a área sofre pressão por conta do desmonte da política ambiental no Brasil, além da desmobilização e desestruturação de órgãos de comando e controle como Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) e Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Essas ações provocaram recordes sucessivos de desmatamento e focos de calor registrados nos últimos quatro anos. Esse período compreende a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Paula Guarido ressaltou as situações e ações que levaram ao cenário de pressão sobre a região que compreende municípios localizados ao sul da rodovia e estão mais próximos do “arco do desmatamento”, uma região historicamente mais sujeita aos desmatamentos. “A soma do incentivo a atividades ilegais, como desmatamento, garimpo e grilagem, a não destinação a terras públicas e a falta de fiscalização por parte das esferas federal e estadual, incentivaram a esse cenário”, afirmou. 

Sujeita às intempéries do clima amazônico, a BR-319 está há muito abandonada pelo governo federal, principalmente o ‘Trecho do Meio”, considerado o mais crítico (Reprodução/Orlando K. Jr.-FAS)

Lábrea

No conjunto negativo dos números, o município de Lábrea despontou com o maior índice de desmatamento ao longo do ano, com 55.332,93 hectares. Os focos de calor, que ajudam a ampliar a pressão climática e o aquecimento em 2022 foram protagonizados pelos municípios de Porto Velho, Lábrea, Manicoré, Humaitá e Canutama, responsáveis por 89% o que equivale a 12.533 focos de calor na região.

O estudo do Observatório aponta que decisões governamentais que deram ritmo acelerado no licenciamento do “Trecho do Meio” e a desproteção da Terra Indígena (TI) Jacareúba-Katawixi, ações que aconteceram no final do Governo Bolsonaro, contribuíram para o agravamento ambiental na BR-319. O “Trecho do Meio” compreende 405 km de extensão e começa no Km 250, chegando até a BR-230, no km 655, na altura de Humaitá. O trecho é considerado a parte mais danificada da estrada.

Com a camada asfáltica comprometida, resta aos motoristas trafegar por quilômetros e quilômetros de barro e lama decorrentes das fortes chuvas do inverno amazônico (Reprodução/Orlando k. Jr.-FAS)

Os dados revelam que a situação na BR-319 espelha a realidade do Amazonas, que foi o Estado da Amazônia Legal com maior aumento de desmatamento em relação a 2021, com índice de 24%. “É muito difícil provocar alguma reação do poder público, no sentido de combater ilegalidades, quando se tem um governo avesso ao diálogo, como foi o caso do Governo Bolsonaro”, lamentou a pesquisadora Paula Guarido.