Odaras: No Dia da Mulher Negra, CENARIUM lança podcast feito por mulheres amazônidas sobre temas tabus e antidiscriminatórios
25 de julho de 2022
11:07
Priscilla Peixoto – Da Agência Amazônia
MANAUS – Temas da atualidade sob o olhar de mulheres negras amazônidas é o propósito do novo podcast da CENARIUM, em parceria com a Rede Onda Digital. Sob o comando das advogadas da consultoria especializada em Direito Antidiscriminatório, ODARAS, o programa semanal, terá uma proposta inédita nos meios de comunicação do Amazonas e estreia nesta segunda-feira, 25, às 22 horas, nas plataformas da Cenarium e no Canal 8.2 da Rede Onda Digital.
“Somos 4 advogadas com a intenção de aquilombar para colaborar. As problemáticas existentes nas atividades que exercemos, individualmente, nos demonstrou a necessidade de atuarmos juntas. Depois do convite da revista, percebemos a oportunidade de ampliar o debate e trazer provocações e reflexões a partir da temática interseccional de raça, gênero e classe”, conta a advogada e uma das apresentadoras Laila Alencar, que divide a apresentação com as também advogadas Ana Carolina Amaral, Luciana Santos e Rhaiza Oliveira.
Data especial
De acordo com Laila, a estreia do podcast para o dia 25 de Julho tem um significado vinculado ao real sentido da data que comemora o “Dia de Tereza de Banguela e o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha”, que visam combater o racismo, machismo e as opressões de raça e gênero, além propor a capacitação e a mobilização de mulheres negras sobre o tema.
“O Dia de Tereza de Benguela, uma líder quilombola que chefiou seu quilombo resistindo à escravidão, por mais de duas décadas, traz para as mulheres brasileiras, como nós, a inspiração para resistir às lutas contra o racismo e o sexismo que tentam nos tirar, entre outras coisas, o direito de viver“, comenta Laila.
Vozes e resistência
A jurista também ressalta que o podcast foi pensado com foco no Norte e terá participações de convidadas (sempre do sexo feminino), com o intuito de aproveitar o espaço para divulgar as vozes, tantas vezes, silenciadas de mulheres nortistas e racializadas. Para a advogada e jornalista Luciana Santos, o programa semanal é emblemático e desafiador.
“O fato de nosso podcast ir ao ar no Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, Dia de Teresa Benguela, e numa segunda-feira, Dia dedicado a Exu, que é o senhor dos caminhos e da comunicação é muito emblemático e um sinal de que temos o amparo de nossa ancestralidade, o que torna também o nosso trabalho um desafio muito maior“, considera Luciana.
Transformação social
Para a advogada, fazer parte de um trabalho que aborde, dentre vários tópicos, assuntos como raça, gênero e classe, faz parte de um sonho e de resistência à violência colonial ainda existente muito além da violência física. “São todas as microagressões diárias do racismo, é o apagamento da nossa existência e da nossa humanidade“, considera Luciana que complementa.
“Esse projeto é um sonho que eu, como jornalista, carrego há mais de 20 anos e que, graças aos Orixás, ao companheirismo de minhas irmãs e à visão inclusiva da Revista Cenarium, estará disponível não só para os amazonenses, mas também para todos aqueles que acessam a internet. Transformação social é o que nos move e alimenta os nossos Orís (cabeças) diariamente. Que as sementes lançadas nesse projeto rendam frondosas árvores, como as sumaúmas amazônidas e os baobás africanos“, celebra.
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Mulher Negra, Latina e Caribenha
No dia 25 de julho é comemorado o Dia Nacional de Tereza de Benguela, da Mulher Negra e o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. A celebração surgiu há 30 anos, no primeiro Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, em Santo Domingos, na República Dominicana.
No Brasil, a data foi oficialmente sancionada pela Lei N° 12.987/2014, pela presidenta Dilma Rousseff, e é considerada um “marco referencial na luta e resistência de feministas negras” e todas as formas de apagamento existentes dessa população.
Conhecida como “Rainha Tereza”, a data rememora a figura de Tereza de Benguela, pelo símbolo de força e resistência que ela foi enquanto líder do Quilombo Quariterê, no século 18, na região do Mato Grosso. Tereza se tornou líder do quilombo após a morte do marido José Piollho. A então viúva teve que coordenar a luta contra os portugueses e se tornou um ícone na luta contra e escravidão. Em 1770, foi assassinada, em meio à destruição do quilombo, pelas forças da capitania do Mato Grosso, comandada pelo então Luiz Pinto Coutinho.