Operação Ptolomeu: PF aponta ‘Dudu’ como operador financeiro de governador do Acre

Eduardo Braga, conhecido como "Dudu" e o governador do Acre, Gladson Cameli (Matheus Moura/Revista Cenarium)

22 de março de 2023

20:03

MANAUS – A Polícia Federal (PF) deflagrou no dia 9 de março, a terceira fase da Operação Ptolomeu, que apontou um nome central da organização criminosa que atua no Governo do Acre, Eduardo Braga da Rocha, conhecido como ‘Dudu’. As investigações mostram que ele é o principal operador financeiro do governador Gladson Camelli (Progressistas), no esquema de corrupção e lavagem de dinheiro. Cameli é suspeito de ser o “chefe da organização”. 

A “Ptolomeu III” investiga uma organização criminosa envolvida em corrupção e lavagem de dinheiro relacionados à cúpula do Governo do Acre. Na terceira fase, a PF pediu o sequestro de R$ 120 milhões em bens dos investigados. No caso do governador Gladson Cameli, são alvos da medida veículos, uma aeronave e imóveis avaliados em mais de R$ 10 milhões. Outra medida autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) foi o afastamento de 34 agentes públicos e a suspensão da atividade de 15 empresas.

Segundo a PF, as investigações indicam a existência de uma “organização criminosa, controlada por agentes políticos e empresários ligados ao Poder Executivo estadual acreano, que atuava no desvio de recursos públicos, bem como na realização de atos de ocultação da origem e destino dos valores subtraídos, através da lavagem de capitais.”

Agentes da PF nos cumprimentos dos mandados de busca e apreensão (Reprodução/PF)

Tão próximo ao governador, ‘Dudu’ ocupava até o início do mês cargo comissionado de chefe de Departamento da Casa Civil do Acre. Ele foi afastado do cargo e recebia salário mensal de R$ 11.069,10. No dia 9, quando foi deflagrada a terceira etapa da Ptolomeu, a ministra Nancy Andrigui, do Superior Tribunal de Justiça, ordenou seu afastamento cautelar.

De acordo com relatórios que o jornal Estado de São Paulo teve acesso, os investigadores sustentam que “Dudu” possui ‘inequívoca proximidade’ com o governador. Ele já foi alvo de pedido de prisão preventiva. Os investigadores pediram o afastamento do governador, mas foi negado pelo STJ.

A PF narra que ‘sobram indícios’ de que Eduardo Braga tem ‘posição de proeminência’ na organização criminosa investigada. Segundo os investigadores, ele atua em três frentes:

1)’Gerir e organizar as finanças do governador; 2) ‘Negociar e receber vantagens indevidas (propina) em virtude de contratos públicos celebrados’; 3) ‘Delegar serviços menos importantes àqueles que estão abaixo dele na cadeia de comando da organização criminosa’;

Ao pedir ao STJ a abertura da nova fase ostensiva da Ptolomeu, a PF transcreveu diálogos entre outros investigados que indicam o ‘poder e a ascendência’ de Eduardo Braga no grupo investigado, ‘localizando-se muito próximo ao governador do Acre’.

Operação Atlântida

Uma conversa foi recuperada no celular de um dos alvos da Operação Atlântida, aberta pela PF em Cruzeiro do Sul – interior do Estado -, em junho de 2022. O investigado que teve o aparelho apreendido possui, segundo a PF, empresa que detém ‘contratos públicos fraudados’.

Essa empresa, diz a investigação, teria pago propina de quase R$ 500 mil a Eduardo Braga no bojo de um contrato fechado com o governo acreano. No entanto, segundo a PF, ‘Dudu’ não parece prestar serviços no órgão público, sendo remunerado, na prática, ‘para prestar serviços privados ao governador, numa flagrante situação de desvio de finalidade’.

Gladson Cameli, governador do Acre (Reprodução)

De acordo com os investigadores da Ptomoleu, Eduardo Braga ‘gerencia a obra de uma mansão do governador do Acre’. Em julho de 2022, os investigadores deram início a um monitoramento de ‘Dudu’ e constataram sua proximidade com Gladson Cameli.

Segundo a PF, Eduardo Braga ‘gerencia a vida financeira’ do chefe do Executivo acreano. A PF indica que o comissionado da Casa Civil do Acre é responsável inclusive por realizar transporte e operações com dinheiro do governador.

Ao STJ, onde tramitam as investigações da Ptolomeu, a corporação entregou Relatório de Inteligência Financeira (RIF). O documento aponta que Eduardo Braga fez ‘depósitos de altos valores’ em espécie em favor de Cameli. Ele também paga suposto empréstimo em favor do governador ‘com impressionantes R$ 100 mil em espécie’.

Envolvimento de parentes

A PF ainda estabelece ligações entre Eduardo Braga, seu irmão Daniel, e o pai do governador do Acre, Eladio Cameli. Segundo a corporação, os irmãos são oriundos de Manaus, onde mora o patriarca da família Cameli, e passaram a viver em Rio Branco durante o mandato de Gladson, ocupando cargos em comissão em diversas secretarias.

Os investigadores narram que Daniel ocupou, na gestão de Cameli, cargo de diretor de Infraestrutura e Logística na Secretaria de Educação e Esportes do Estado. Posteriormente, deixou a cadeira para ocupar o cargo de diretor administrativo na Secretaria de Saúde – pasta que abriga contratos sob investigação na Ptolomeu.

Veículos da Polícia Federal em frente ao condomínio de luxo do irmão Daniel, na zona Oeste de Manaus, durante a terceira fase da operação Ptolomeu. (Reprodução/ Internet)

Um contrato citado na investigação da PF tem como objeto a manutenção predial de instalações da Saúde. Segundo a corporação, a análise do procedimento ‘constatou várias irregularidades’ que ‘geram o lastro financeiro que possibilita o desvio de recursos públicos’.

“Explica-se: por meio de medições completamente fraudulentas, sobram recursos para as empresas integrantes do consórcio Aquiri & Atlas distribuírem entre servidores públicos e agentes políticos, inclusive o governador Gladson Cameli”, afirmou a PF na representação submetida ao STJ para abertura da terceira fase da Ptolomeu.

(*) Com informações do Uol