Órgãos e autoridades lamentam morte do biólogo Thomas Lovejoy, um dos principais defensores da Amazônia

Biologo americano Thomas Lovejoy, em agosto de 2017 (Leo Martins/ Agência O Globo)

26 de dezembro de 2021

10:12

Victória Sales – Da Revista Cenarium

MANAUS – Um dos principais nomes da defesa da conservação de biomas, como a Amazônia, e apontado como um dos primeiros cientistas a popularizar o termo “diversidade biológica” além do meio científico, o ambientalista Thomas Lovejoy morreu nesse sábado, 26, aos 80 anos. O defensor ajudou a criar o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), baseado em Manaus.

Em nota, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), lamentou o falecimento de uma dos maiores cientistas e estudiosos da Amazônia. “Tive a oportunidade de encontrá-lo em visita ao Museu de Ciências Naturais de Nova Iorque, durante viagem em que participei de eventos da ONU relacionados ao meio ambiente. Ele nos apresentou o museu e destacou o potencial do Amazonas para também ter um museu científico, demonstrando todo o seu conhecimento sobre nossa biodiversidade”, relatou.

Para o governador, Thomas Lovejoy deixa um legado incomparável de conhecimento sobre a Amazônia para esta e futuras gerações. “É uma grande perda para a ciência e para a Amazônia. Meus sentimentos aos familiares e amigos do doutor Thomas e meus votos para que encontrem em Deus o conforto necessário”, afirmou Wilson Lima.

Além disso, o Instituto Serrapilheira também lamentou a partida de Thomas. “O Serrapilheira lamenta o falecimento do seu conselheiro científico Thomas Lovejoy. Professor da Universidade George Mason (EUA), o biólogo pesquisava a Amazônia há mais de 50 anos e era seu grande defensor”, relatou por meio das redes sociais.

O site ClimaInfo também lamentou a morte de Thomas e afirmou que seu legado ficará guardado com muito carinho. “Que pena, morreu hoje um grande biólogo, ambientalista e defensor da Amazônia. RIP Thomas Lovejoy. Guardaremos com muito carinho o legado deste cientista profundamente engajado com a conservação da biodiversidade”, informou nas redes sociais.

A Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), por meio de nota, lamentou profundamente a morte do ambientalista. Reconheceu que Lovejoy ajudou a criar o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e ganhou reconhecimento da comunidade científica por ter criado o termo “diversidade biológica”. Seus trabalhos nortearam o planejamento de áreas de preservação no bioma.

Foi conselheiro para assuntos ambientais do Banco Mundial e vice-presidente-executivo do Fundo para a Natureza (WWF). Com sua experiência, foi um interlocutor importante para a formulação de políticas ambientais no Amazonas e em todo o País. A Sema reconhece o legado emblemático deixado por Lovejoy e solidariza-se à família, amigos e companheiros de trabalho.

História

Biólogo formado pela Universidade de Yale, com ênfase na biologia tropical e em ações de conservação de biomas, estabeleceu uma relação mais que próxima com o Brasil ainda na década de 1960, quando esteve na Amazônia durante seus estudos de doutorado. Mais tarde, nos anos 1970, ajudou na elaboração de estudos sobre o impacto do desmatamento sobre a diversidade da fauna e flora amazônicas.

“A Amazônia era esse mundo selvagem inacreditável e tropical. Era como se tivesse morrido e chegado ao Paraíso. Era fascinante, e aos poucos passei de simplesmente fazer ciência a fazer ciência e conservação ambiental”, declarou, em 2015, à revista Pesquisa Fapesp. “A Amazônia é um dos lugares mais importantes para trabalhar no mundo”, disse ainda.

Nas décadas seguintes, passou a trabalhar em programas de organizações de conservação, como o WWF e o Instituto Smithsonian, sempre colocando ênfase na necessidade da proteção do bioma amazônico. Nesta época, se notabilizou por popularizar o uso da expressão “diversidade biológica” ou “biodiversidade”, que passaria a ser incorporada ao meio acadêmico e políticas públicas no futuro.

“Fui o primeiro a usar o termo “diversidade biológica”, ainda nos anos 1980. A comunidade científica discutia sobre a variedade de seres vivos na natureza, mas não tínhamos esse termo definido. Na época, ninguém prestou atenção em quem foi o primeiro, só depois as pessoas perceberam de fato”, revelou em entrevista ao GLOBO, em 2017.

Ao longo de sua carreira, atuou como conselheiro para biodiversidade para o Banco Mundial, entre 1999 e 2002, para o Banco Interamericano de Desenvolvimento, além de posições exercidas na Fundação das Nações Unidas, a Associação de Conservação da Amazônia e a Sociedade pela Conservação Biológica. Em abril, foi eleito para a Academia Nacional de Ciências dos EUA.

Ele ajudou a fundar o Centro de Biodiversidade da Amazônia e o Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, em 1979, baseado em Manaus e que levou à produção de centenas de artigos, dissertações e teses nas décadas seguintes — ao longo de sua carreira, se pautou em levar ao mundo a urgência de preservar a Amazônia.

“É uma grande floresta, reconhecida no cenário mundial, mas muitos brasileiros não sabem disso. Mesas de discussão e congressos sobre sustentabilidade são essenciais. Viajei mais uma vez ao Brasil porque mantenho interesse muito grande pela infraestrutura sustentável que, acima de tudo, respeita o meio ambiente”, disse em 2017 ao GLOBO.

*Com informações do Infoglobo