Pará e Amazonas lideram terceiro ano seguido em que desmatamento na Amazônia passa de 8 mil km²

Pelo terceiro ano consecutivo no governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), o desmatamento passa de 8 mil km² (Chico Batata/Greenpeace)

12 de agosto de 2022

14:08

Bruno Pacheco – Da Agência Amazônia

MANAUS – O Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou nesta sexta-feira, 12, dados dos últimos 12 meses sobre alertas de desmatamento na Amazônia Legal. Com o Pará e o Amazonas, respectivamente, liderando os números, foram destruídos 8.590,33 km² de floresta em toda região no período de 1° de agosto 2021 a 31 de julho 2022, sendo o terceiro ano consecutivo no governo do presidente Bolsonaro (PL) em que a devastação passa de 8 mil km².

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O levantamento foi obtido por meio do Deter, um sistema de detecção de desmatamento em tempo real do Inpe. Segundo a ferramenta, julho deste ano foi mês com os maiores índices de destruição para a temporada, quando foram derrubados 1.486 km² do bioma — área quase do tamanho da cidade de São Paulo (1.521 km²). Em 12 meses, o Estado do Pará registrou 3.072 km², o Amazonas 2.292 km² e Mato Grosso 1.433 km², Rondônia 1.179 km², Acre 395 km², Roraima 125 km² e Maranhão 83 km².

“O Amazonas e o Pará estão encabeçando a lista dos maiores desmatadores, isso significa que a frente de degradação tem se expandindo ainda mais sobre setores que até então não apresentavam estes níveis de destruição”, comentou o ambientalista e mestre em EcologiamCarlos Durigan.

Apesar dos números, esta é a primeira vez que o desmatamento cai no Governo Bolsonaro. De acordo com o Inpe, os dados deste ano são inferiores aos registrados entre agosto de 2019 e julho de 2020, quando foram computados 9.216 km² alertas; e entre agosto de 2020 a julho de 2021, quando 8.780 km² da Amazônia foram destruídas.

Para o porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil, Rômulo Batista, a Amazônia enfrenta nos últimos anos um esquema organizado, patrocinado por grandes proprietários e grileiros de terra que atuam na destruição da floresta e que, em meio as flexibilizações de políticas de proteção ambiental e combate ao desmatamento, se sentem protegidos.

“O que chamou atenção nos sobrevoos que realizamos neste último ano, além do avanço do desmatamento, é a quantidade de grandes áreas desmatadas em terras públicas não destinadas, em propriedades privadas e até mesmo em áreas protegidas. Isso reitera que o desmatamento da Amazônia não é fruto da pobreza e do desespero de pessoas em situação de grande vulnerabilidade. Trata-se de esquema organizado, patrocinado por grandes proprietários e grileiros de terra”, declarou Batista.

Desmatamento nas cidades

Segundo o Inpe, o Pará também lidera com as cidades que mais desmataram na temporada 2021/2022, com cinco delas inclusas em uma lista de dez, são eles: Altamira, São Félix do Xingu, Itaituba, Portel e Novo Progresso, Lábrea, Apuí e Novo Aripuanã, do Amazonas, Porto Velho, de Rondônia, e Colniza, de Mato Grosso, completam os municípios com mais desmatamento.

Imagem aérea de queimadas na cidade de Altamira, Estado do Pará. (Foto: Victor Moriyama / Greenpeace)

O porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil, Rômulo Batista, chama a atenção para a destruição ambiental acontecer em meio avanço de projetos de lei no Congresso Nacional, como o PL 2633/2020, que anistia grileiros, e o PL 490/2007, que abre terras indígenas para atividades predatórias. Para ele, o Brasil não precisa da aprovação dessas iniciativas, mas de uma política que promova o real combate ao desmatamento, queimadas e grilagem de terras, além de defender os povos da floresta.

“Ao invés de o poder executivo e dos parlamentares estarem focados em conter os impactos da destruição da Amazônia sobre a população e o clima, no combate ao crime que avança na floresta, e que não só destrói nossas riquezas naturais, mas também a imagem e a economia do País, eles tentam aprovar projetos que irão acelerar ainda mais o desmatamento, os conflitos no campo e a invasão de terras públicas.”, conclui.

Ações ilegais

O ambientalista Carlos Durigan afirma que o aumento no desmatamento e na degradação do meio ambiente observados nos últimos anos estão relacionados ao crescimento de ações ilegais de ocupações em terras públicas e a não implementação plena do Código Florestal que, segundo ele, regula a manutenção de reservas legais em terras privadas.

“Este cenário tem ligação direta com a fragilização das políticas públicas ambientais sob a atual gestão. A pequena oscilação desses números se deu em um período climático sob influência do fenômeno La Niña dos dois últimos anos que, basicamente, elevou a quantidade de chuvas, reduzindo assim a inflamabilidade das florestas em algumas regiões”, explicou o ambientalista.

Ainda segundo Durigan, se for considerado o período atual entre 21 e 22, os números ainda continuam se mantendo altos. “Temos números se mantendo ainda altos ao longo dos meses e isso é trágico e preocupante pela perda que representa ao nosso patrimônio natural e ainda pela exacerbação dos extremos climáticos”, frisou Carlos Durigan.