Pesca tradicional alimenta comunidade e paixão da mulher ribeirinha na Amazônia

Ribeirinha, mãe de cinco filho é desafiada pelas necessidades que a vida lhe impõe (Reprodução/ Z Leão)

03 de abril de 2021

21:04

Priscilla Peixoto

MANAUS – A pesca tradicional alimenta comunidade e paixão da mulher ribeirinha na Amazônia, Emiliana Jeova, de 54 anos. Em entrevista neste sábado, 3, a moradora de Barcelos, município amazonense distante 401 quilômetros de Manaus, conta que a prática não serve apenas para subsistência, mas se tornou uma arte, dominada nas águas que banham o rio Negro.

Emiliana é muito “espora” – gíria local para definir pessoas fortes – e admira a pesca esportiva do tucunaré, a pesca artesanal dos peixes ornamentais, e ainda a pesca comercial, onde espécies como o Pacu, aracu, jaraqui, cará e surubim fazem sucesso. Além deles, o cubiu, barba-chato e outros peixes lisos e piranhas completam o consumo dos barcelenses. Nesse cenário, a pescadora mostra o valor.

Ela faz da pesca um hobby e o sustento da família (Reprodução/ Z Leão)

Chega a parecer até algo estranho, já que, no senso comum, a pescaria é coisa de homem. Mas, como fala a nossa desbravadora dos rios: “Essa mulher pequenininha que vocês estão vendo aqui, não sabe e nem aprendeu a diferenciar o que é de o homem fazer ou das mulheres realizarem”, disse inicialmente Emiliana.

Desafios

Viver de pesca não é algo tão fácil a realizar, mas Emiliana, divorciada e mãe de 5 filhos, sempre gostou de ser desafiada pelas necessidades que a vida impõe. Levada pelas durezas que os pescadores enfrentam no cotidiano e com o intuito de lutar pela classe, a ribeirinha resolveu se candidatar para o cargo de vereadora na última eleição de 2020. Não foi eleita, mas vai continuar trilhando o caminho das águas.

Emiliana é chamada pelos amigos de desbravadora dos rios (Reprodução/ Z Leão)

A destreza de como ela maneja o remo e guia a canoa ao colocar as malhadeiras –  um apetrecho de pesca frequentemente utilizado – é a mesma que na escuridão da noite, com a lanterna em uma mão e a zagaia, é uma lança curta e, na outra, a faz arpoar os peixes nas galhadas das beiras dos rios.

Com a pele queimada pela lida de sol a sol nas pescarias não parecer ser um problema. Mesmo porque o sustento da família não leva ela a pensar muito em vaidade, cor, preconceito na profissão ou ainda, qual gênero pode fazer isso ou aquilo. “Alguns dizem que pescaria pode até ser coisa de homem, mas para mim é coisa de Emiliana também, das Marias, das Joanas e de muitas mulheres dessa Amazônia de meu Deus”, finaliza.