Pesquisa estima impacto da criação de novas minas em regiões do Pará e Amapá

Depósitos minerais na Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), localizada entre os Estados do Amapá e Pará, foram mapeados pelos cientistas (Juliana Siqueira-Gay/Acervo Pessoal)

14 de setembro de 2022

13:09

Karol Rocha – Da Agência Amazônia

MANAUS – Se a mineração fosse liberada em áreas protegidas na Amazônia, 183 quilômetros quadrados de floresta seriam degradados, segundo um estudo publicado por cientistas brasileiros na revista científica Nature Sustainability.

Para o trabalho, 242 depósitos minerais na Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), localizada entre os Estados do Amapá e Pará, foram mapeados pelos cientistas com o intuito de estimar o impacto da criação de novas minas na região. Conforme o levantamento, o cenário também exigiria 1.463km de novas estradas para facilitar o acesso à região, causando desmatamento indireto e fragmentação florestal.

Os estudos são da engenheira ambiental Juliana Siqueira-Gay. Os pesquisadores Jean Paul Metzger e Laura Sonter também contribuíram para o trabalho. O estudo teve orientação do doutor em Economia dos Recursos Naturais e professor da Universidade de São Paulo Luis Enrique Sánchez.

Garimpo na Terra Indígena Munduruku, no Pará, em maio de 2020 (Chico Batata/Greenpeace)

Modelos Espaciais

Para simular a expansão das minas e da infraestrutura associada, o grupo desenvolveu modelos espaciais de mudança de uso da terra, incluindo a área da Renca e arredores, em um total de cerca de 250 mil quilômetros quadrados, o que corresponde a 5% do território da Amazônia Legal.

À Agência Fapesp, a pesquisadora Juliana Siqueira-Gay afirmou que uma das inovações da pesquisa foi a modelagem de impactos futuros de possíveis áreas novas para a mineração e da infraestrutura necessária para chegar até elas, como a construção de estradas. Ela é a primeira autora do artigo que é parte de sua tese de doutorado defendida na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).

“Acreditamos que as discussões e propostas de reduzir áreas protegidas devem considerar o impacto na floresta, em sua biodiversidade e nos serviços ecossistêmicos. Por isso, a necessidade de ter um planejamento estratégico para esses casos”, comentou.

O trabalho modelou cinco cenários de expansão da mineração, por 30 anos, na Renca. Em nenhuma das modelagens houve um resultado desejável de conservação, sendo que todas em alguma medida apresentaram aumento do desmatamento, perda de áreas altamente biodiversas e crescimento da fragmentação da paisagem.

Em alguns casos, conforme o levantamento, uma rede rodoviária longa e com alto custo seria necessária, criando uma pressão adicional para abrir ainda mais as áreas de proteção e gerando mais fragmentação florestal. “Nas modelagens, usamos depósitos minerais sem dividir por tipos de minério, então, não tratamos, de forma diferenciada, uma possível mineração de ouro, por exemplo. Sabemos que já há muitas jazidas na região e não dá para negligenciar que a construção de novas estradas facilitaria ainda mais o acesso”, disse ainda a pesquisadora à Agência Fapesp.

Atualmente, nove Unidades de Conservação cobrem 90% da área da reserva, sendo duas Terras Indígenas (TIs), três áreas de proteção integral e quatro de uso sustentável. A mineração não é permitida, legalmente, dentro desse território e das áreas protegidas que estão na Renca.

O artigo Strategic planning to mitigate mining impacts on protected areas in the Brazilian Amazon, dos pesquisadores Juliana Siqueira-Gay, Jean Paul Metzger, Luis Enrique Sánchez e Laura Sonter, pode ser lido em: www.nature.com/articles/s41893-022-00921-9#Ack1.