Principal causador de poluição nos rios, ser humano é o que mais sofre consequências, diz especialista

Despejo irregular de lixo nos igarapés prejudica a saúde dos seres humanos (Bruno Pacheco/ Revista Cenarium)

20 de dezembro de 2020

20:12

Bruno Pacheco

MANAUS – A presença de poluentes em rios e igarapés lançados por indústrias e pelas ações do ser humano afeta, principalmente, o seu principal causador: o homem. É o que diz a pesquisadora Cláudia de Deus, que atua na Coordenação de Biodiversidade do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e é docente do Programa de pós-graduação em Biologia de Água Doce e Pesca Interior do Amazonas.

Segundo a especialista, por ser o último elo da cadeia alimentar, o homem sofre com as maiores consequências da poluição, por conta do processo de bioacumulação, fenômeno que ocorre com o acúmulo de substâncias ou de compostos químicos no organismo de determinado ser vivo, ou seja, com a absorção de substâncias encontradas no ambiente ou por meio da alimentação contaminada.

Esses alimentos são contaminados devido aos materiais poluentes lançados irregularmente ao meio ambiente, como o enxofre que gera a chuva ácida, causando danos irreparáveis ao solo e ao homem. “Algumas indústrias podem estar usando metais pesados na fabricação de peças metálicas e esses efluentes podem vir a contaminar os igarapés. Essa produção de peça metálica vem por meio do processo de galvanoplastia, que nada mais é do que as peças serem banhadas em algum metal e esse efluente industrial cai nos igarapés”, explicou Claudia de Deus.

A pesquisadora disse, ainda, que a contaminação por metais pesados pode ocorrer pela própria ingestão da água ou por meio do consumo de peixes contaminados. “A contaminação desses peixes pode acontecer de forma direta pelo metal pesado, ou, pelo processo de bioacumulação”, salientou.

Com a bioacumulação, os compostos químicos vão se acumulando e a cada etapa da cadeia alimentar, definida como uma sequência linear da transferência de matéria e energia em um ecossistema, os impactos são maiores.

“Em muitas vezes, o nível de contaminação que tem nesses peixes que estão no último elo da cadeia alimentar, é onde acumula mais, por isso que é um processo de bioacumulação. E o ser humano, se ingerindo o peixe, ele está sendo o último elo da cadeia alimentar e, para ele, pode apresentar níveis alto de poluentes, metais pesados que não se sabe ainda quais problemas de saúde que podem ocorrer, problemas esses que podem aparecer daqui a anos, como tumores e entre outros”, detalhou.

Poluição em igarapés

Com a pandemia da Covid-19 em paralelo ao isolamento social de pessoas nas ruas da capital, em maio deste ano, o despejo inadequado de lixo em igarapés reduziu, em Manaus, conforme observação do ambientalista José Antônio Coutinho repassada à REVISTA CENARIUM.

Em época de cheia ou de seca do rio, o descaso e a degradação ao meio ambiente são constantes (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

O cenário de degradação ao meio ambiente é visto regularmente em uma das áreas mais famosas e visitadas de Manaus, a região da Marina do Davi, no Tarumã, Zona Oeste da capital. Com a vazante do rio, conforme reportagem da CENARIUM em outubro deste ano, o acúmulo de lixo se acentua, levando riscos à saúde de moradores da localidade.

“Todo o sistema hídrico, seja ele lago, rios ou igarapés, pode ser classificado quanto a sua característica física ou química. Essa classificação é o que pode dizer se a água é potável, própria para consumo, ou não. Isso não quer dizer que uma água que não seja potável esteja poluída”, explanou a pesquisadora do Inpa, Cláudia de Deus.

Segundo ela, a potabilidade, na verdade, é exigida quando se refere ao consumo humano. “A gente pode ter corpos de água não potável, mas que ainda mantém características boas, por exemplo, para uso doméstico ou mesmo para a manutenção da biodiversidade do ambiente”, especificou.