Quilombolas da Amazônia Legal têm maior probabilidade de morrer por Covid-19, diz estudo

28 de junho de 2020

23:06

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) relevou que a taxa de letalidade da Covid-19 em quilombolas da Amazônia Legal é a maior em toda América Latina, com 17%. Em entrevista exclusiva à REVISTA CENARIUM, o coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ambientes Amazônicos da instituição, doutor Renan Albuquerque, pontuou três possíveis fatores que influenciaram para o resultado do estudo.

No total, 63% desses povos morreram por Covid-19 nos Estados do Amazonas, Pará, Amapá, Rondônia e Maranhão e a explicação se dá pelo fato, diz o pesquisador, pela desigualdade social, implicação sazonal e sucessibilidade genética dos quilombolas.

“As condições de quilombolas na Amazônia são difíceis e são esses três fatores que implicaram na pesquisa. No entanto, isso não significa que eles são mais fracos para o vírus, mas são mais propensos a sofrerem com a doença devido à essas dificuldades”, disse o doutor.

Coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ambientes Amazônicos da Universidade Federal do Amazonas (Nepam/Ufam), doutor Renan Albuquerque Rodrigues. (Divulgação)

Albuquerque afirma que a taxa de letalidade mundial da Covid-19 varia entre 0,8% e 1,2%. Já no Brasil, varia de 4,8% e 5,2%, ou seja, quase quatro vezes maior de que o cenário global. Entre pobres, negros e indígenas, a variância fica entre 8,5% e 10% de taxa de letalidade.

“No Brasil, a taxa de letalidade de quilombolas, que são descendentes de pessoas que foram escravizadas no passado, é de 11%, e na Amazônia Legal os dados chegam a 17%”, afirmou.

Fatores

A desigualdade social, com a dificuldade de lavar as mãos e a falta de esgotamento (saneamento básico) somado à implicação sazonal do vírus influenza, que provoca a gripe, implicaram para o maior número de mortes pela Covid-19 entre povos quilombolas.

Segundo o pesquisador, existem populações mais propensas a sofrerem danos por conta de suas genéticas. “Nos povos nativos das Américas, nos indígenas, o vírus da gripe é histórica. A comorbidade e o fato da pessoa ser idosa e indígena, é um caldeirão de sucessibilidade genética”, detalhou.

Dados da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) mostram que o País tem mais de 650 famílias declaradas como povo tradicional. O Amazonas tem oito comunidades quilombolas: 5 em Barreirinha, 1 em Itacoatiara, 1 em Novo Airão e 1 em Manaus.

“A maioria dos quilombos que abrigam quilombolas do Amazonas, está no interior, como em Barreirinha. E a maioria dos quilombos da Amazônia também está no interior e aí a gente identifica onde existe maior precariedade para a Covid-19”, concluiu.

Outro ponto levantado pelo pesquisador é o relaxamento das medidas preventivas com a falta do uso de máscaras de proteção. “Esses fatores nos mostram que o espalhamento da Covid-19 em povos quilombolas são mais drásticos”, finalizou.