Região Norte registra o diesel mais caro do País em alta histórica de preços, revela ANP

Na Região Norte, o levantamento comparou os valores cobrados em 246 postos e concluiu que, além do preço mais inflado do País estar sendo praticado no Acre, é, também, este o Estado que apresentou o preço médio mais elevado (Reprodução/Agência Brasil)

24 de maio de 2022

21:05

Iury Lima – Da Revista Cenarium 

VILHENA (RO) – O combustível utilizado para abastecer as longas viagens e as prateleiras do comércio brasileiro está ainda mais caro, segundo a pesquisa mais recente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Quando a análise é feita comparando as disparidades regionais, fica evidente que os motoristas que mais sentem no bolso são aqueles que trabalham ou vivem no Norte do País, região que abrange a maioria dos Estados da Amazônia Legal.

Enquanto que no município de Cornélio Procópio, no Paraná, o litro do óleo diesel pode ser encontrado a R$ 5,49, sendo o mais barato do País; em Cruzeiro do Sul, no Acre, é onde está o preço mais ‘salgado’: R$ 8,30.

A escalada de preços não é uma novidade, visto que o preço médio do combustível chegou ao maior valor nominal da série histórica iniciada em 2004 (Reprodução/Agência Brasil)

Valores, neste patamar, agravam ainda mais os reflexos da inflação sofrida pelos brasileiros, especialmente, na Região Amazônica, na avaliação da economista e vice-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Denise Kassama. “O custo logístico ganha uma relevância cada vez maior no aumento de preços e penaliza as pessoas de menor renda, como os pequenos produtores e os ribeirinhos”, comentou a especialista à REVISTA CENARIUM

No entanto, a escalada de preços não é uma novidade, em território nacional, visto que o valor médio do combustível chegou a R$ 6,94, ou seja, o maior valor nominal da série histórica, desde que a ANP começou o levantamento, em 2004.

A atual pesquisa de preços foi realizada em 2.458 postos de combustíveis e considera um período de uma semana, entre os dias 15 e 21 de maio de 2022.

Norte teve os maiores preços médio e máximo praticados no País, seguido pelo Nordeste (Arte: Isabelle Chaves/CENARIUM)

Tudo caro

Na Região Norte, o levantamento comparou as cobranças nas bombas de 246 postos de abastecimento e concluiu que, além do maior preço registrado nesta série histórica estar sendo praticado no Acre, é, também este o Estado que apresentou o preço médio mais elevado: R$ 8,08. Abaixo, estão o Pará, com preço médio de R$ 7,43 e, Rondônia, com R$ 7,26 o litro.

Já os postos com a prática de preços máximos mais altos, abaixo de Cruzeiro do Sul (AC), estão em Alenquer (PA), com R$ 7,99 e, Itacoatiara (AM), com cobrança de R$ 7,95 por litro. 

À frente de todas as outras regiões do País, o Norte tem o preço médio mais inflado do Brasil, sendo o R$ 7,22 quase empatado com o Nordeste, que cobra, em média, R$ 7,21.

Alta dos preços dos combustíveis alimenta a inflação, avalia economista (Arte: Isabelle Chaves/CENARIUM)

Para Kassama, é “evidente que o aumento nos combustíveis, em especial o diesel, contribua com o aumento geral de preços, uma vez que tudo que é produzido precisa ser escoado para os centros consumidores”. É o que acontece, em Rondônia, por exemplo, que utiliza a BR-364 como a principal via de acesso ao restante do País, seja para enviar ou receber alimentos, produtos em geral e, até mesmo, combustíveis.

Na Amazônia, nada legal

A liderança ainda fica com o Acre, entre as capitais da Amazônia: Rio Branco teve o preço máximo mais elevado, R$ 7,85. Além disso, todas as capitais, com exceção apenas para Palmas (TO), registraram valores máximos acima de R$ 7. A única que não teve dados contabilizados foi Belém (PA). 

Já o valor mais barato, praticado nas bombas, em toda a Amazônia, foi encontrado em Manaus: R$ 6,55; a mesma capital que registrou, ainda, o preço médio mais razoável da região, R$ 6,84.

No recorte das capitais da Amazônia Legal, a liderança foi de Rio Branco (Arte: Isabelle Chaves/CENARIUM)

É possível baratear?

Muito necessário para os setores rodoviário e industrial, o óleo diesel é bastante consumido no Brasil. De acordo com a ANP, apenas entre janeiro e setembro de 2021, foram utilizados mais de 46 milhões de litros pelo consumidor final, o que foi quase 10% em relação a 2020. 

Esta é uma escalada recorrente, segundo os indicadores, pois, em 2021, o combustível fóssil também teve a maior elevação de valor. Outro fator crítico são os preços praticados acima do nível mundial, segundo a própria Agência do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. 

Centro de Distribuição da Petrobras, no SIA, Terminal Terrestre de Brasília (Reprodução/Agência Brasil)

Denise Kassama aponta que “a Petrobras baseia sua política de preços alinhada com o mercado internacional, mas que devido aos conflitos, na Europa, tem ocorrido um aumento da demanda global, e, consequentemente, esse impacto nos preços”, avaliou a especialista.

“Uma padronização é complexa, devido aos próprios custos logísticos da operação. Locais mais distantes têm custo logístico maior, o que impacta nos preços”, acrescentou sobre uma possibilidade de baratear os custos de maneira uniforme.

Para Denise Kassama, os constantes aumentos penalizam as pessoas de menor renda, como os pequenos produtores e os ribeirinhos (Reprodução/Acervo Pessoal)

Kassama também aponta o fato de que o Brasil precisa importar óleos de fora, mesmo sendo um grande produtor de petróleo. “O Brasil produz 3 milhões de barris de petróleo por dia e consome 2,5 milhões. Mesmo assim, importa 300 mil barris por dia”, detalhou, indicando que o custo do petróleo, no momento atual, é uma preocupação planetária.

Por isso, na visão da vice-presidente do Conselho Federal de Economia, a redução de preços de ICMS não é a melhor solução. “É preciso revisar toda a cadeia de custos para atribuir o preço de venda em cima do preço de custo. O ICMS é a principal arrecadação tributária dos Estados, que, por sua vez, repassam parte dela para os municípios. Diferente do governo federal, que pode compensar eventual redução de arrecadação com outros tributos”, finalizou.