Relatório aponta aumento de violência contra jornalistas em 2020 e cita casos com profissionais do AM

De acordo com o estudo, as ofensas foram a principal forma de violência não letal (Getty Images)

03 de abril de 2021

11:04

Bruno Pacheco

MANAUS – O relatório anual da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) sobre violações à liberdade de expressão foi divulgado, nesta semana, e apontou um aumento de 168% de casos de violência não letal contra jornalistas em 2020, em relação a 2019. O documento cita exemplos com profissionais de imprensa do Amazonas que ocorreram em outubro do ano passado, quando foram empurrados por agentes de segurança do vice-governador do Estado, Carlos Almeida (sem partido), durante uma coletiva de imprensa.

No ano passado, segundo o estudo, foi registrado um caso de assassinato de um jornalista pelo exercício da profissão e 150 casos de violência não letal, que envolveram pelo menos 189 profissionais e veículos de comunicação. Os dados foram encomendados pela Abert a Bites, empresa de análise de dados para decisões estratégicas, e foram apresentados pelo presidente da associação, Flávio Lara Resende, em evento virtual na terça-feira, 30, e contou com a participação de representantes de instituições parceiras e de jornalistas.

“Os dados chamam a atenção, em especial, pelo fato de as agressões físicas, ameaças, ofensas e intimidações terem ocorrido em um ano marcado pela pandemia de Covid-19, quando medidas restritivas foram impostas à população para o combate ao novo coronavírus”, aponta a instituição.

De acordo com o estudo, as ofensas foram a principal forma de violência não letal. Somente em 2020, foram 59 casos relatados (39,33% do total), envolvendo pelo menos 68 jornalistas, o que representa um aumento de 637,5%, quando comparado com o ano anterior. Conforme o relatório, os principais alvos foram os profissionais de jornal e TV e a região Centro-Oeste registrou o maior número de ocorrências.

Agressões físicas

O relatório destaca que as agressões físicas também tiveram em evidência. Em 2020, foram relatados 39 casos de agressões corporais (26% do total), envolvendo pelo menos 59 vítimas, um aumento de 67,5% em relação ao ano anterior. Segundo a Abert, profissionais do sexo masculino de TV e sites estiveram no foco de agressões como chutes, socos e empurrões durante as coberturas jornalísticas.

O caso envolvendo os profissionais da comunicação do Amazonas, que ocorreu em 28 de outubro de 2020 em uma coletiva do vice-governador do Estado, é um dos exemplos. À época, jornalistas de vários veículos foram empurrados por agentes de segurança de Carlos Almeida, durante coletiva sobre as denúncias que envolviam o político no escândalo de superfaturamento na compra de respiradores para pacientes com Covid-19.

O relatório relembra que, após ler um pronunciamento, o vice-governador encerrou a coletiva sem permitir perguntas e que, ao tentar questionar Carlos Almeida sobre a apuração da Polícia Federal, no caso, a jornalista Rosiene Carvalho teve o braço segurado por um sargento da Polícia Militar.

“Na confusão, Jullie Pereira, do Portal Amazonas Atual, foi arranhada pela mesma pessoa, identificada pela imprensa de Manaus como Michele Welche Silva Lobo. Relato semelhante foi feito por Cynthia Blink, da Rádio Mix e do Portal O Amazonês. Já o repórter fotográfico Adriano Santos, do Portal Manaós, foi empurrado e impedido de filmar a polícia”, enfatiza trecho do documento.

À REVISTA CENARIUM, a jornalista Cynthia Blink afirmou na época que foi ferida com um arranhão no braço direito e que os profissionais foram acolhidos em uma sala pequena, considerando a grande quantidade de pessoas presentes e a pandemia de Covid-19.

O caso foi acompanhado pela REVISTA CERNARIUM que mostrou vídeos da confusão. Nas imagens, divulgadas na internet, quando o vice-governador encerrou o pronunciamento e se deslocou para a saída, surge uma mulher loira, que faz parte da equipe dele. A mulher teria empurrado os profissionais, fazendo barreira com os braços para que ninguém ultrapassasse.

Assista ao vídeo

De acordo com Cynthia Blink, a assessoria de Carlos Almeida apresentava um comportamento agressivo desde antes do início da coletiva. Confira como ficou o braço da jornalista:

Nas redes sociais, Cynthia Blink compartilhou como ficou o braço (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Ataques virtuais

Nas redes sociais, foram produzidos 42 milhões de publicações sobre mídias de natureza genérica em 2020, um aumento de 4% em comparação ao ano anterior (que teve 40,3 milhões de menções à mídia). Segundo o relatório, no campo de referências negativas, incluindo menções com expressões depreciativas, como golpista, lixo, parcial, canalha, foram publicados 2,9 milhões de posts em 2020 contra 3,2 milhões em 2019.

“Apesar da queda de 9% em relação ao ano anterior, o levantamento aponta que a imprensa sofreu 7.945 ataques virtuais por dia ou quase 6 agressões por minuto. Em 2020, os perfis e sites mais conservadores tiveram quase 50 milhões de interações com expressões pejorativas, uma redução de 30,6% em relação a 2019”, reforçou o estudo.

Confira o relatório: