‘S.O.S Uru’: Operação combate desmatamento e pesca ilegal na principal terra indígena de Rondônia

São três frentes de atuação: incursões na mata; sobrevoos e navegação sobre os rios da reserva que tem quase o tamanho de Sergipe (Thiago Alencar/CENARIUM)

29 de junho de 2022

22:06

Iury Lima – Da revista Cenarium

VILHENA (RO) – O cerco voltou a fechar contra desmatadores, grileiros e pescadores ilegais que se aproveitam dos recursos naturais da Terra Indígena (TI) Uru-Eu-Wau-Wau localizada em Rondônia. A Polícia Federal (PF) inutilizou, na terça-feira, 28, um acampamento, veículos e ferramentas empregadas na prática de crimes ambientais. 

Essa é a segunda fase da Operação S.O.S Uru, deflagrada com apoio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Fundação Nacional do Índio (Funai) e Polícia Militar (PMRO) para combater os delitos dentro do mais importante território habitado por Povos Originários no Estado. 

Agentes encontraram um acampamento, motos, redes de pesca e diversos pontos de desmatamento ilegal (Reprodução/Polícia Federal)

Segunda fase

As forças de segurança e fiscalização voltaram à Área Protegida depois que a PF recebeu denúncias relatando o retorno dos invasores – quase oito meses após as primeiras diligências na região -, principalmente, para extrair madeira ilegal. 

Já no primeiro dia de volta à TI Uru-Eu-Wau-Wau, os agentes incendiaram um acampamento improvisado e apreenderam motocicletas utilizadas pelos infratores para o deslocamento interno. Também recolheram redes de pesca que estavam espalhadas em um rio. Sem especificar o tamanho das áreas, a PF disse ter identificado diversos pontos de desmatamento.

As ações, ainda em curso, são conduzidas por três frentes de atuação: incursões na mata; sobrevoos e navegação sobre os rios, especialmente, mais ao Norte e ao Sul da reserva, que tem quase 2 milhões de hectares, o equivalente ao tamanho do Estado de Sergipe.

Até o momento, ninguém foi preso. Já as investigações seguem pela Delegacia da Polícia Federal em Ji-Paraná (RO), a 372 quilômetros de Porto Velho.

Policiais Federais incendiaram um acampamento improvisado por invasores de terras, no território uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia (Polícia Federal/Reprodução)

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A operação S.O.S Uru teve início em novembro de 2021, quando ocorreu a primeira repressão à exploração ilegal da Terra Indígena. Naquela época, a polícia desfez dois garimpos e apreendeu cargas de madeira, além de maquinários pesados empregados na derrubada de mata virgem.

 A ação também ocorreu por terra e sobrevoos, contando com 95 homens. Duas pessoas foram presas em flagrante por receptação de madeira ilícita.

Segunda fase da operação acontece por água, terra e ar (Polícia Federal/Reprodução)

Sobreviventes

O povo Uru-Eu-Wau-Wau estabeleceu contato com a sociedade não indígena, a partir dos anos 1970, ao custo de sangue.

As diversas invasões e perseguições sofridas pela etnia reduziu sua população para apenas 115 indivíduos até 2010, segundo dados do Instituto Socioambiental (ISA). Hoje, passados mais de 20 anos, não chegam a 200 pessoas. Eles dividem o território com outras oito etnias, incluindo, povos isolados e, mesmo assim, totalizam cerca de 600 habitantes.

O território do povo Uru-Eu-Wau-Wau percorre 12 municípios de Rondônia por quase 2 milhões de hectares (Google Earth/ISA/Reprodução)

A Terra Uru-Eu-Wau-Wau é a mais importante reserva indígena de Rondônia, devido ao corredor etnoambiental, à sua biodiversidade e abundância em água doce. Com 17 nascentes de rios, ajuda a garantir o abastecimento hídrico de 12 municípios.