‘São repórteres de guerra’, diz Eliane Brum sobre jornalistas que atuam na Amazônia

Gabriel Abreu participou da palestra de encerramento do 17º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, representando o GRUPO CENARIUM/AGÊNCIA AMAZÔNIA (Marcela Leiros/Agência Amazônia)

07 de agosto de 2022

16:08

Marcela Leiros e Priscilla Peixoto – Da Agência Amazônia

SÃO PAULO – “Os jovens repórteres, se eles forem bons e entenderem o que estão vivendo, serão repórteres de guerra”. A declaração de Eliane Brum foi feita nesse sábado, 6, durante o encerramento do 17º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Brum participou da palestra “Caso Dom e Bruno: como chegamos até aqui”, ao lado dos jornalistas Gabriel Abreu, da REVISTA CENARIUM/AGÊNCIA AMAZÔNIA, e de Elaíze Farias.

O encontro debateu a insegurança que impera na Amazônia por conta da invasão de garimpeiros, a pesca ilegal, o desmatamento e a pouca ação do poder público, que culminou nos assassinatos do servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai) Bruno da Cunha Araújo Pereira e do jornalista britânico Dominic Mark Phillips, o “Dom Phillips”, no dia 5 de junho, no Vale do Javari.

“Não é que o Estado está ausente na Amazônia, ele está muito presente e está ‘miliciarizado’. O Bolsonaro [presidente da República] governa para destruição, não tem nenhuma ausência na Amazônia, ao contrário, ela está dominada por grileiros, desmatadores e garimpeiros. […] É nesse contexto que o Bruno e o Dom são assassinados, é nesse contexto que a gente tem que fazer a nossa cobertura. Então estamos em guerra, sendo massacrados, e a pergunta é ‘O que é ser jornalista de guerra?’“, questiona a jornalista.

Cobertura histórica

Gabriel Abreu, repórter da TV Cultura no Amazonas e correspondente da REVISTA CENARIUM/AGÊNCIA AMAZÔNIA em Roraima, explica que os acontecimentos que culminaram nas mortes do indigenista e do jornalista britânico já são vivenciados e reportados há tempos por jornalistas que trabalham na Amazônia, mas só ganharam notoriedade após o crime que teve repercussão internacional.

Essa ‘bomba’ já existe há muito tempo. Explodiu agora, mas nós, que somos jornalistas da Amazônia, já estamos vivenciando há anos e as pessoas do Sul e do Sudeste precisam olhar com mais carinho para região”, salienta Abreu, acrescentando ainda a experiência de ter atuado em outro caso de repercussão internacional: a invasão de garimpeiros no Rio Madeira, também no Amazonas.

Jornalista da REVISTA CENARIUM, Gabriel Abreu (Reprodução/ Divulgação)

“Ele [o garimpeiro] não quis falar com a gente, achava que a gente era inimigo, e falei para eles deixarem a gente contar a história deles, ouvir o lado deles, quem eram eles, quem os levou para lá. Porque quem patrocina isso não vai para esses locais, eles não vão”, pontuou.

Guerreiros da notícia

Já Elaíze Farias enfatizou que o caso de Bruno Pereira e Dom Phillips colocou em pauta um apagamento histórico do Vale do Javari, e que para trabalhar noticiando os episódios de violação na Amazônia “tem que ser guerreiro e atento”.

“O caso também ajudou a revelar um território que estava, até então, em total apagamento. A Terra Indígena Vale do Javari é a segunda maior terra indígena do País, depois da Terra Indígena Yanomami, é um território muito difícil de ser acessado. Quem esteve lá cobrindo viu como é a situação, não tem internet, não tem um telefone básico. Para trabalhar na Amazônia tem que ser guerreira, tem que ter paciência e um olhar atento”, diz ela.

Leia também: ‘É inédito e necessário’, dizem jornalistas sobre inclusão de pautas trans no Brasil, na programação da Abraji

Participação

Além de participar do debate de encerramento do evento, a REVISTA CENARIUM/AGÊNCIA AMAZÔNIA foi convidada a ter um espaço para divulgar seu conteúdo impresso e eletrônico durante a programação. O espaço mostrou aos visitantes, principalmente, as edições que envolvem a segurança da Amazônia e a Zona Franca de Manaus, em foco nos últimos meses.

Fazem parte da equipe da REVISTA CENARIUM/AGÊNCIA AMAZÔNIA, no congresso, a CEO da empresa, Paula Litaiff, os jornalistas Marcela LeirosPriscilla Peixoto e Gabriel Abreu, além do gestor de marketing Orson Oliveira. O congresso iniciou dia 3 de agosto e encerra neste domingo, 7, na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), na capital paulista.

Congresso Internacional

No ano em que a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo completa 20 anos, profissionais e estudantes de Jornalismo de todo o País voltaram a se reunir em São Paulo para trocar experiências, em um dos eventos mais importantes da área na América Latina.

Promovido pela Abraji, o Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo chegou a 17ª edição com o compromisso de trazer especialistas do Brasil e do mundo para discutir 15 grandes temas, incluindo técnicas de apuração, trabalhos notáveis, projetos inovadores, transparência pública, proteção e segurança, ataques à democracia, desinformação, racismo, inclusão e sustentabilidade, entre outros.

Depois de dois anos de eventos exclusivamente on-line, devido à pandemia, o Congresso da Abraji voltou ao modelo presencial. O evento proporciona reencontros e momentos de networking, e ainda leva debates, cursos e oficinas de maneira acessível e gratuita a jornalistas e estudantes de todo o País.

Integrado à programação on-line do 17° Congresso da Abraji, aconteceu o 9° Seminário de Pesquisa em Jornalismo Investigativo, em que pesquisadores apresentaram seus trabalhos científicos submetidos, previamente, à avaliação, e jornalistas recém-formados discutiram seus trabalhos de conclusão de curso selecionados pela Abraji.