Sem demanda turística, indígenas da aldeia do Tupé amargam prejuízos

A entidade aponta que mais de 50% dos nativos foram atingidos diretamente pelo novo coronavírus até novembro de 2020. (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

10 de setembro de 2020

20:09

Náferson Cruz – Revista Cenarium

MANAUS – Mesmo de posse da autorização para o recebimento de turistas, a aldeia Tupé, lar dos índios das etnias dessana, ticuna, tucano e tuyuka, localizada à margem esquerda do Rio Negro, amarga a falta de demanda turística. Desde que recebeu a validação para o retorno das atividades, com medidas de proteção em função da Covid-19, no início da segunda quinzena de agosto, a aldeia vem recebendo pequenos grupos de turistas, número bem inferior ao fluxo de ‘gringos’ que visitou o local antes da pandemia.

O cacique José Maria Diákuru acredita que a baixa procura se deve à mudança no roteiro dos pacotes turísticos das agências, que direciona o trajeto para outras localidades da região do Tupé, deixando a comunidade indígena sem demanda.

“Se não bastasse a pandemia, agora estamos enfrentando esse outro problema, os turistas estão sendo levados para outros pontos até mais distantes, pois preferem os flutuantes onde aparecem botos”, comentou.

Diákuru diz ainda que as famílias indígenas estão se mantendo com doações. “Devido à falta de turistas, o comércio de artesanato na aldeia enfraqueceu e, hoje, contamos com doações voluntárias”, lamentou o indígena.

Líder espiritual, pajé José Maria Diákuru diz que a mudança na rota turística trouxe prejuízos à aldeia. (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

A aldeia Tupé é um dos destinos mais comuns para quem visita Manaus. Distante a 25 quilômetros da capital amazonense, a localidade está dentro de umas das maiores áreas de selva preservadas do Amazonas.

A atividade turística desenvolvida pelos indígenas residentes na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Tupé foi regulamentada em julho do ano passado, com regras estipuladas pela Prefeitura de Manaus, por meio do Conselho Deliberativo da RDS, formado por representantes das seis comunidades que integram a reserva, incluindo núcleos indígenas e órgãos como a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Fundação Municipal de Cultura Turismo e Eventos (Manauscult), Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Apresentações de danças tradicionais faziam parte da rotina da aldeia do Tupé. (Reprodução/Revista Cenarium)

Desde a regulamentação, somente as operadoras que tenham cadastro de prestadores de serviços turísticos (Cadastur) do Ministério do Turismo e autorização da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), órgão gestor da RDS do Tupé, podem levar turistas à RDS.

O Tupé é a primeira unidade de conservação do mosaico do Baixo Rio Negro a regulamentar a atividade turística indígena