Sem folia, sem lucro: autônomos ‘sentem no bolso’ a suspensão do Carnaval no Amazonas

Autônomos se veem sem perspectivas econômicas diante da falta da principal fonte de renda ligada à folia. (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

11 de fevereiro de 2021

12:02

Marcela Leiros

MANAUS – A pandemia de Covid-19 alterou a rotina agitada comum à época de Carnaval, cancelado para evitar aglomerações das festividades. Por essa razão, autônomos do Amazonas se veem sem perspectivas econômicas diante da falta da principal fonte de renda ligada à folia.

Um dos afetados pelo cancelamento é o carnavalesco Fabiano Fayal, que há 20 anos costumava ver o ateliê bem movimentado. Ele, que também é aderecista de carros alegóricos e coordenador da escola de samba Mocidade Independente de Aparecida, enfrenta as incertezas do período.

“Hoje estamos sem perspectiva financeira e o futuro é incerto. Já estou cogitando a possibilidade de mudar de profissão. No entanto, todos os caminhos possíveis estão complicados”, destaca o autônomo, que compõe o setor artístico e cultural, um dos mais afetados da pandemia.

O carnavalesco Fabiano Fayal atua há 20 anos em um ateliê bem movimentado.(Reprodução/Arquivo Pessoal)

Incerteza

Hoje o carnavalesco luta para sustentar a família com o faturamento escasso da produção de confecções. “Até isso deu uma parada, porque as pessoas não têm dinheiro para fazer roupa. Para você ter ideia, estou sobrevivendo com a ajuda do salário da minha esposa e da minha irmã, porque a minha renda foi totalmente comprometida”, reforçou.

Não é só folia

Para os foliões, o período carnavalesco promete diversão ao lado de amigos e familiares. No entanto, a festa marca um dos períodos que representam a maior obtenção de renda de artistas e trabalhadores, que se desdobram para abrilhantar os eventos, que a pandemia, contudo, interrompeu.

Raimunda Lira Porto é vendedora de bebidas em blocos de rua há 15 anos e afirma que o período carnavalesco costuma ser a época mais lucrativa do ano. “Quando a festa é boa, dá para tirar R$ 800. No fim do Carnaval a gente chega a lucrar de mil a quinze mil reais”, afirma a autônoma.

Raimunda Lira Porto é vendedora de bebidas em blocos de rua há 15 anos. (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Porto ressalta que foi preciso encontrar outras fontes de renda. “Eu estava fazendo limpeza, mas agora com tudo fechado ninguém chamou mais. Eu faço empada e bolo, vou pela rua vendendo e dá pra [sic] tirar pra [sic] gente do pão. Esse mês de janeiro paguei o meu aluguel na graça de Deus, porque tive amigos que me ajudaram”, disse.

Falta de apoio

Bel Costa trabalha há dez anos com alegorias de carnaval das agremiações carnavalescas de acesso e especiais e também coordena junto ao esposo Itamar Marinho o barracão da escola de samba Andanças de Cigano. Com a pandemia, a única renda foi interrompida e agora a família precisa encontrar outras formas de sustento.

Itamar Marinho e Bel Costa em frente a uma das alegorias produzidas por eles.(Reprodução/Arquivo Pessoal)

“Eu resolvi fazer máscara e tiara para os meus familiares e vendi bastante. Investi um dinheiro em roupas de academia para vender, não deu muito certo, porque até hoje tenho um dinheiro para receber. Também estou vendendo bonequinhos de feltro, fazendo curso de maquiagem, porque quero me aprimorar. Tento me virar de todas as formas”, destacou a artista.

A autônoma reforça que considera o cancelamento das festas necessário para evitar as aglomerações, mas destaca que é preciso mais apoio do poder público para os artistas e profissionais da cultura. “Não é momento de festa e o Carnaval é uma festa popular, tem que ter aglomeração”, reforça a artistas de forma consciente.

“Mas quando uma fábrica está sendo fechada, porque não tem condições de manter os empregos, no carnaval é da mesma forma. Somos artistas e dependemos desse trabalho, ser artista é uma profissão digna e eu tenho muito orgulho dela”, finalizou Bel Costa.

Para os foliões, o período carnavalesco promete diversão ao lado de amigos e familiares.(Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Carnaval cancelado

O Carnaval estava previsto para começar em 13 de fevereiro e se estender até o dia 17 do mesmo mês. Apesar disso, o ponto facultativo foi cancelado nos estados do Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo, Santa Catarina e Sergipe.

Motivado pelo alto número de casos de Covid-19, o governador Wilson Lima (PSC) suspendeu o feriado, previsto para os dias 15 e 16 de fevereiro. Na esfera municipal, o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), também suspendeu o feriado de Carnaval, por meio do decreto nº 5.023 assinado na terça-feira, 9 e publicado no Diário Oficial de Manaus (DOM).