Sem parecer jurídico da PGE, governador de RR sanciona lei que proíbe destruição de equipamentos usados em crimes ambientais

Balsas de garimpo incendiadas em operação da Polícia Federal no Rio Madeira (Hermes de Paula/Infoglobo)

05 de julho de 2022

20:07

Gabriel Abreu – Da Agência Amazônia

BOA VISTA – O governador de Roraima, Antonio Denarium (Progressistas), sancionou nesta terça-feira, 5, o Projeto de Lei (PL) 233/2022 que proíbe os órgãos de fiscalização e a Polícia Militar de Roraima de destruírem os bens de garimpeiros durante operação.

Na semana passada, o governo havia informado que o PL havia sido encaminhado para análise de constitucionalidade para a Procuradoria-Geral do Estado (PGE). Nesta terça-feira, mesmo sem o parecer da PGE, o governador sancionou o PL.

(Gabriel Abreu/CENARIUM)

“O projeto de lei foi enviado para a PGE, não tivemos ainda a análise técnica e jurídica. Eu sancionei a lei porque é competência do governador do Estado, e se tiver algum tipo de questionamento, que possa ser efetuado em todas as esferas judiciais. O fato é que nós temos milhares de pessoas no Estado de Roraima que dependem dessa atividade para sobreviver”, afirmou o governador.

Sanção

A REVISTA CENARIUM informou, em primeira mão, por meio de uma entrevista com o deputado estadual George Melo (Podemos), que o projeto de lei tinha sido sancionado pelo governador Antonio Denarium.

O Ministério Público Federal (MPF) já havia informado que o PL é inconstitucional, contraria a legislação federal e pode contribuir para o aumento da criminalidade ambiental. O MPF se baseia nas ações de descaracterização, destruição ou inutilização de bens apreendidos que são previstos na legislação federal – Lei 9.605/1998 e Decreto 6.514/2008 – e já foram reconhecidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como imprescindíveis para o enfrentamento do garimpo ilegal.

Havia uma forte pressão por parte dos garimpeiros para que o Estado sancionasse a lei. Por outro lado, ambientalistas e indígenas são contra a aprovação desse projeto de lei. Argumento rebatido pelo deputado estadual George Melo (Podemos), autor da proposta na ALE-RR, que diz que a lei foi criada para áreas federais e que os órgãos de fiscalização querem impor essa lei no Estado.

“Nós não podemos aceitar que um só órgão possa ser fiscal, o juiz e o inquisidor. Aqui tem Poder Legislativo e tem governador e tem, ainda, trabalhador que precisa ser respeitado, ter dignidade e ter a garantia de que se investir vai ter, certamente, o seu direito para que seja discutido”, afirmou o deputado.

Inconstitucional

Dessa forma, o MPF entende que a proposta é, claramente, inconstitucional, reduz decisivamente a capacidade do Estado em combater os criminosos ambientais e contribui, lamentavelmente, para a tragédia humanitária em curso contra os povos indígenas.

Por fim, o órgão manifesta que adotará, oportunamente, as medidas cabíveis, caso o Projeto de Lei 233/2022 seja sancionado pelo Poder Executivo estadual.