‘Temos uma bancada do crime’, diz delegado ao acusar senadores de RR de serem financiados por grupos criminosos

De acordo com o delegado, são vários os relatos de servidores públicos que sofrem ameaças (Divulgação)

15 de junho de 2022

12:06

Gabriel Abreu — Da Revista Cenarium

BOA VISTA — Ex-superintendente da Polícia Federal do Amazonas (PF-AM), o delegado Alexandre Saraiva concedeu uma entrevista nessa terça-feira, 14, ao programa “Estúdio I”, da jornalista Andrea Sadi, da Globo News, e fez diversas acusações contra os senadores de Roraima Telmario Mota (Pros) e Mecias de Jesus (Republicanos), ao dizer que eles e outros parlamentares fazem parte da chamada “bancada do crime”. A entrevista tratava sobre o desaparecimento do indigenista Bruno Araújo e do jornalista inglês Dom Philips, na região do Vale do Javari, no Amazonas.

“Esses criminosos têm boa parte dos políticos da Região Norte no bolso. Eu estou falando de governadores, senadores. Olha o Centrão, veja de onde saíram grande parte dos parlamentares do Centrão. São financiados por esses grupos. Zequinha Marinho, Telmário Mota, Mecias de Jesus, Jorginho Melo, de Santa Catarina, mandou ofício; a Carla Zambelli foi lá defender madeireiro. Temos uma ‘bancada do crime’, na minha opinião, de marginais, de bandidos”, afirmou Saraiva.

Procurados pela REVISTA CENARIUM para comentar as acusações do delegado Alexandre Saraiva, o senador Mecias de Jesus informou que não vai se pronunciar. Já a assessoria de Telmário Mota não respondeu as nossas mensagens.

Delegado foi atacado

Saraiva afirmou que, durante uma audiência na Câmara dos Deputados, na Comissão de Legislação Participativa, foi atacado pelos parlamentares.

“Eu que fui em tantas audiências criminais com advogados e criminosos sentados na minha frente, nunca fui tão desrespeitado pelos criminosos presos, como naquele dia lá na Câmara. Os deputados estavam fazendo uma lista de defesa do crime”, lembrou Saraiva.

Saraiva foi superintendente da Polícia Federal no Amazonas e foi transferido para o Rio de Janeiro em 2021, depois de denunciar o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por proteger madeireiros ilegais. O delegado coordenou a ‘Operação Handroanthus’, que fez a maior apreensão de madeira da história na Amazônia.

“Eu tenho aqui uma coleção de ofícios de senadores de diversos Estados da Amazônia enviados para o meu chefe, dizendo que eu estava ultrapassando os limites da lei, que eu estava cometendo abuso de autoridade. Já teve senador junto com madeireiros me ameaçando… Enfim, o que pega é isso”, disparou o delegado.

Ausência do Estado

De acordo com o delegado, são vários os relatos de servidores públicos que sofrem ameaças. Segundo Alexandre Saraiva, existe um “grande risco para esses servidores e que não pode ser solucionado sob o ponto de vista da segurança pessoal”. “O que pode resolver o problema não é uma segurança específica para determinado servidor, porque eu acho que é inviável. O que precisa é se mostrar forte na região”, afirmou o ex-superintendente.

O caso

Bruno Pereira e Dom Phillips estão desaparecidos desde o dia 5 de junho deste ano, no Vale do Javari, interior do Amazonas, após receberem ameaças em campo, segundo a União dos Povos Indígenas Vale do Javari (Univaja).

Segundo a Univaja, Bruno e Dom viajavam em uma embarcação nova, com motor de 40 HP e 70 litros de gasolina, rumo a uma localidade próxima à Base de Vigilância da Funai, no Rio Ituí, Lago Jaburu, para que o jornalista britânico realizasse entrevistas com indígenas para um livro com temática ambiental.

Até esta quarta-feira, 15, dois irmãos identificados como Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado” e Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”,  estão presos, suspeitos de envolvimento no desaparecimento.

Veja o trecho da entrevista: