11 de janeiro de 2022
12:01
Nauzila Campos – Da Revista Cenarium
MANAUS – As águas do rio Xingu banhavam, há décadas, a vontade do ambientalista Zé do Lago de proteger quelônios no interior do Pará. A soltura dos répteis era feita anualmente, em um processo dedicado de amor ao meio ambiente. A tradição foi repassada à família, moradora das margens do rio Xingu, que se uniu na luta em prol dos quelônios. Mas, esse ciclo de proteção à vida foi interrompido de maneira abrupta pela morte. Zé do Lago, a esposa Márcia e a filha J. (menor de idade) foram assassinados a tiros em São Félix do Xingu, no Estado do Pará.
De acordo com a Polícia Civil, a análise do estado de decomposição indica que o crime pode ter acontecido há mais de três dias. O corpo de Márcia foi achado às margens do rio, enquanto pai e filha estavam perto da residência, junto a cápsulas de projéteis. Os corpos foram encontrados pelo filho do casal e irmão da terceira vítima.
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A Polícia Civil do Pará indica que há suspeita de pistoleiros experientes no crime, mas a motivação do triplo homicídio ainda está sob investigação. O local passou por perícia em toda a área onde os corpos foram encontrados e os trabalhos continuam. “A Polícia Civil informa que realiza diligências na região para localizar os autores do crime”, disse a PC, em nota.
Brasil é o 4º País mais perigoso do mundo para ambientalistas
O número de assassinatos de ativistas ligados a causas ambientais bateu um novo recorde em 2020. Em todo o mundo, 227 pessoas foram mortas por defenderem seus territórios, o direito à terra, seus meios de subsistência e o meio ambiente, segundo dados do relatório “A última linha de defesa”, da ONG Global Witness, divulgado em setembro do ano passado.
No ranking global, o Brasil aparece na quarta posição, com 20 assassinatos, atrás de Colômbia (65 mortes), México (30) e Filipinas (29). A América Latina foi a região mais letal do mundo para ambientalistas. Das 227 mortes, 165 foram em países latino-americanos, 72,7% do total. No Brasil, a maior parte dos crimes (75%) ocorreu na Amazônia e vitimou indígenas.
Além dos assassinatos, também aumentaram as ameaças de morte, violência sexual e tentativas de criminalização, segundo a Global Witness. Esses tipos de ataques, porém, são ainda mais difíceis de serem capturados no relatório, afirma a ONG, chamando a atenção para a possível subnotificação.