07 de setembro de 2021
11:09
Marcela Leiros – Da Cenarium
MANAUS – As tradicionais cores da bandeira nacional, símbolo da República Federativa do Brasil, entraram no debate político entre direita e esquerda e neste Dia da Independência deverão protagonizar a polarização em curso, no País. Nas redes sociais, são constantes as acusações de “fascista” para quem usar o verde, amarelo e azul como representações de orgulho de ser brasileiro, e “comunista” para quem prefere não usá-las. À CENARIUM, especialistas analisaram o embate entre os “dois lados”.
O Brasil adotou oficialmente a bandeira nacional em 19 de novembro de 1889, substituindo a bandeira do Império do Brasil. As cores verde e amarelo, principalmente, foram adotadas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ainda durante a campanha presidencial nas eleições de 2018, quando foi eleito. Desde então, as cores têm sido utilizadas por seus apoiadores.
O apoio de militares e forças policiais ao governo federal, somado à crescente rejeição da oposição ao presidente, potencializam a aversão à política bolsonarista. Pesquisa PoderData feita entre 30 de agosto e 1º de setembro mostra que a taxa dos que rejeitam votar no presidente permaneceu estável em um mês, oscilando de 61% para 60% – variação dentro da margem de erro de 2 pontos percentuais. Bolsonaro é o nome mais rejeitado entre os analisados, que inclui Lula (PT), João Doria (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e José Datena (PSL).
De acordo com o cientista político Carlos Santiago, o Brasil concentra, hoje, muita desigualdade, pobreza e fome, e o discurso de patriotismo e a defesa de símbolos e cores da bandeira nacional não têm adesão da maioria da população, alcançando principalmente grupos organizados.
“São ainda usados como nas estratégias de marketing do atual governo federal. Isso tem levado à adesão de brasileiros a cultuar cores da bandeira nacional, mas, também, criar repulsa de outros grupos sociais, como os ligados à oposição e intelectuais. Fica sempre o mesmo recado: não adianta usar a cor da bandeira com a barriga vazia e não a participação efetiva da população nas decisões de governo”, explicou à CENARIUM.
Embate histórico
O embate entre direita e esquerda, vermelho e cores da bandeira do Brasil, não é recente e já teve lugar em outros períodos da história do Brasil. Em 1934, depois da Revolução de 30 e durante a solenidade de promulgação da Constituição de 1934, Getúlio Vargas foi eleito para a Presidência da República. Nesta época, conforme explica o historiador Cleomar Lima, havia duas “facções” no Brasil.
“Não eram partidos, era facções: a direita e a esquerda”, conta ele, lembrando ainda que a direita tinha como representante Plínio Salgado e a esquerda, Luiz Carlos Prestes. “Um defendendo o extremismo de direita, que era ação integralista brasileira, e do outro lado a junção das forças de esquerda, que eram comandada por Prestes. Uma usava muito essa questão do verde, do amarelo, que era o símbolo do fascismo no Brasil. A outra usava o vermelho em função da realidade da oposição naquela época”, destacou Lima.
Com relação aos dias atuais, o historiador conclui que este “7 de Setembro” será de medição de forças, como ocorreu em 1934, o que é perigoso. “São coisas perigosas porque sempre têm pessoas que são descontroladas, não compreendem bem o que é um ato cívico, o que é uma manifestação cívica e acaba descampando para o outro lado”, pontua.