Vídeo: autoridades policiais do Pará apuram invasão de pistoleiros em Eldorado dos Carajás

Quatro homens teriam chegado ao local efetuando disparos com armas de fogo, e logo em seguida, incendiaram os abrigos. (Reprodução/Instagram)

18 de dezembro de 2020

18:12

Victória Sales

MANAUS – Após a violenta invasão do acampamento Osmir Venuto da Silva, ocorrido na segunda-feira, 14, o Ministério Público Federal (MPF), a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) e a Polícia Civil do Pará (PC-PA) lideram diligências para acompanhar a situação agrária no município de Eldorado dos Carajás, localizado ao sul do Pará.

Segundo a Polícia Civil do Pará, uma equipe foi deslocada até a localidade ainda na quarta-feira, 16, para averiguar as condições do acampamento e dar prosseguimento às investigações. “A autoridade fez o registro de ocorrência do caso e solicitou perícias técnicas”, disse em nota.

Já a Sejudh reuniu representantes de movimentos sociais para monitorar denúncias de violação de direitos humanos na região. O titular da pasta, Alberto Teixeira, afirmou que ainda é possível encontrar pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica no local. “Solicitamos a atuação de diversos órgãos para prover os mínimos necessários para bem atender a população atingida com um conjunto integrado de ações da iniciativa pública”, afirmou.

Rastro de destruição deixados na noite do ataque. (Reprodução/Twitter)

Ja o MPF deve seguir traços históricos de investigação sobre grilagem de terras da União, na área que já é conhecida por conflitos de terras que foram palco do Massacre de Eldorado do Carajás, em abril de 1996.

A invasão

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) informa que na noite da invasão, pistoleiros efetuaram disparos com armas de fogo, momento que se seguiu pelo incêndio dos barracos que consumiu as moradias e todos os pertences das famílias que aguardam serem inseridas em políticas de reforma agrária.

No momento do ataque, os camponeses, entre eles mulheres, crianças, pessoas idosas e também portadores de deficiência, foram acordados pelo barulho dos disparos, momento em que fugiram para a mata para não serem assassinados.

Os camponeses relatam que, após o ataque, a noite foi de pânico. Os pistoleiros continuaram, por toda a madrugada, a passar pela estrada efetuando disparos em direção ao acampamento. Relatam as vítimas que ao passar pelo acampamento, em direção à Fazenda objeto do conflito, gritos se somavam aos disparos deixando evidente o terror que o grupo de jagunços tinha como objetivo efetivar.

Veja o vídeo

(Reprodução/Instagram)

Histórico de conflitos

Em 2018, Eudes Veloso Rodrigues foi assassinado por pistoleiros. Em 2017, Denizart Alves de Souza, da Liga dos Camponeses Pobres (LCP), sofreu um atentado. “Muito embora os casos tenham ganhado repercussão, não há notícias das investigações referentes aos crimes praticados pelas milícias que atuam na fazenda, ou com relação aos mandantes”, publicou a CPT Xinguara.

No dia 02 de dezembro de 2019, policiais militares foram flagrados atacando camponeses do acampamento Osmir Venuto que trabalhavam com coleta de castanhas, se tornando alvos corriqueiros. Os trabalhadores foram recebidos com balas de borracha. Há anos as famílias denunciam as várias violências sofridas no local, muitas vezes, realizadas por grupos milicianos que agem na região.

O acampamento Osmir Venuto da Silva está localizado às margens da BR-155, entre os municipios de Sapucaia e Eldorado dos Carajás (PA). As famílias estão em área contígua ao complexo de Fazendas Surubim, de propriedade do empresário Amilcar Farid Yamin.

A CPT afirma que a fazenda conta com grandes proporções de terras públicas griladas pelo latifundiário, que já estariam comprovadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

As famílias, em decorrência de Ação de Reintegração de Posse movida pelo grileiro Amilcar Farid Yamin, (autos 0001025-24.2015.8.14.0045, tramitando perante a Vara Agrária Cível de Marabá), firmaram acordo junto à Comissão Nacional de Violência no Campo, no ano de 2015, onde seriam obrigadas a desocupar o Complexo de Fazendas.